O segredo dos livros mais vendidos

Livros para escritores

Todos querem saber qual o segredo dos livros mais vendidos. De fato, existem excelentes livros para escritores. Entretanto, livros sozinhos, sem escritores empenhados em estudar e praticar, não promovem milagres.  Aos poucos, vou trazendo alguns deles, com resumos e comentários. Mas é claro que nada substitui a leitura do livro, mesmo porque eles são para serem estudados e consultados com frequência, não apenas lidos.

Ao ler “O SEGREDO DO BEST-SELLER – Tudo o que você precisa saber para escrever um livro campeão de vendas” – de Jodie Archer e Matthew L. Jockers, tradução de Regiane Winarski, editora Astral Cultural, 2017 — vi informações demais para guardar só pra mim. Por isso, está aqui um resumo dos principais tópicos para compartilhar com vocês.

Sobre “O segredo do best-seller” – o DNA

Acreditando que o sucesso de vendas não é aleatório, os autores deste livro trabalharam de forma incansável durante cinco anos. Foram anos pesquisas para descobrir o que os livros mais vendidos têm em comum, e porque eles figuram nas listas de best-sellers. Para isso, criaram softwares capazes de “ler” e analisar os livros campeões de venda. Então compararam com outros que não conseguiram o mesmo sucesso, através do reconhecimento de padrões que se repetem em cada uma dessas duas categorias. Ou seja, provar que os livros best-sellers não são modismos e nem caem no gosto popular por acaso. Eles possuem um DNA, com características latentes.

Dessa forma, analisando vários desses livros, os autores nos trazem em suas 239 páginas, seis capítulos com os resultados desses estudos.

O método e os resultados

As primeiras trinta páginas trazem mais uma apresentação do método utilizado e das formas de análises dos resultados.

O que os resultados desses trabalhos apontaram?

Foram identificados padrões que são inerentes aos livros que têm maior probabilidade de fazer sucesso no mercado.

Jodie Archer e Matthew L. Jockers nos mostram que entrar para as listas dos mais vendidos, depende de ter as palavras certas na ordem certa. Acrescentam ainda que não pretendem fazer desse livro um manual e nem passar uma fórmula mágica. Porém, aos poucos vão nos revelando em cada linha o que esses livros possuem — que poderíamos explorar mais — e quais elementos que aparecem menos. Acreditem: isso já é uma grande força para qualquer escritor!

O segundo capítulo – os livros mais vendidos

O segundo capítulo discorre sobre “tema”. Convém lembrar que os estudos foram sempre embasados em pesquisas e estatísticas nas listas de best-sellers do New York Times, e nos livros analisados.

Os resultados revelaram que os temas mais prováveis de chegar a ser campeões de venda são aqueles ligados à violência e ao medo.

Um tópico principal dominante nas listas seria o crime, e, como tópicos secundários, aqueles que teriam tudo a ver com o primeiro. Também constataram que o tópico é mais importante que o gênero. Atentem para isso!

Prosseguindo, apuraram também que o escritor best-seller possui um tema principal, que é de sua característica, que ocupa em média um terço de cada um dos seus livros. Isso ajuda a definir a sua marca.

Outros tópicos dos livros mais vendidos

O restante do conteúdo é preenchido com outros tópicos em menores proporções. De acordo com esse modelo, um livro com sexo em quase todos os capítulos, por exemplo, tem menos chances de chegar às listas do que outro que restringe esse espaço a um terço. Ou seja, sexo pode ser abordado, mas na medida certa, relacionado a outros tópicos principais de mais sucesso.

“Autores campeões de vendas escolhem combinações com ganchos garantidos — como crianças e armas, fé e sexo ou amor e vampiros.” (pág.71) Por isso é que os tópicos escolhidos na hora de escrever devem ter potencial de atrair os leitores populares.

O DNA comum de dois escritores campeões de vendas, John Grisham e Danielle Steel, é sobre criar realismo e identificação com tópicos comuns, como pais por exemplo, que é um tópico indicativo de interação humana e relacionamentos.

Então, um ponto indicativo de best-seller é a criação de cenas “sobre pessoas se comunicando em momentos de intimidade compartilhada” (pág.74). Esta é a explicação do sucesso de “Cinquenta tons de cinza”.

O desempenho, segundo os tópicos usados

Segundo os autores “tópicos com desempenho fraco são aqueles relacionados ao fantástico e tudo de outro mundo. Línguas inventadas, criaturas fantásticas, lugares que não existem, batalhas espaciais e naves espaciais; todos têm menos chances de sobreviver em larga escala do que os tópicos realistas do mercado atual.” (pág.75)

Dentro dos temas, aqueles mais prováveis de chegar à lista de mais vendidos são violência e medo, com subtópicos correlacionados. Porém, o que ainda funciona é “escreva sobre o que você conhece” para passar credibilidade aos leitores.

Os autores relacionam como tópicos ruins e impopulares: sexo, drogas e rock and roll. Dentre os bons, populares e desejados estão: casamento, morte, impostos, tecnologias modernas e ameaçadoras, enterros, armas, médicos, trabalho, escolas, presidentes, jornais, crianças, mães e imprensa.

Ainda segundo os autores, o público gosta mais de laboratórios do que de igrejas; de espiritualidade do que de diversão; e de faculdades do que de festas; além de preferirem cachorros ao invés de gatos. Outra preferência dos leitores? Casas comuns, em vez de desertos ou outros planetas. E finalizam essa parte do livro com mais um conselho: escreva sobre pessoas reais, pois não vai existir outro Harry Potter.

O terceiro capítulo

No terceiro capítulo, os autores analisam as curvas dos enredos, do arco temático, com seus momentos de calmaria, de tensão, de conflitos…

A maioria dos best-sellers possui dois ou três temas que juntos formam um terço do livro, e cujo tópico principal tem a ver com a proximidade/intimidade humana.

Livros como “Cinquenta tons de cinza” que apresentam viradas emocionais com regularidade e ritmo que deixam a leitura viciante, difícil de largar. Os autores citam a crença do escritor John Grisham, de que o autor deve prender o leitor nas primeiras quarenta páginas. Por isso, conflito e resolução constantes causam esse efeito. Uma sequência em três etapas: preparação, confronto e resolução. Ou seja: ação crescente, clímax e ação decrescente — que é reproduzida várias vezes. Interessante!

O quarto capítulo

No capítulo quatro, outros testes concluíram que escritores têm uma impressão digital linguística que se mantém mesmo que queiram se esconder por trás de pseudônimos ou mudar o gênero, os tópicos e a linha narrativa. Isso quer dizer que os escritores possuem hábitos de estilo de escrita inconscientes, que caracterizam quem ele é. J.K. Rowling e Stephen King tentaram se ocultar, valendo-se de pseudônimos, mas não demorou para suas identidades serem reveladas. Porém, antes de serem descobertos, venderam de forma bem acima da média de outros escritores estreantes. Isso se explica pelo fato de terem um estilo vencedor. E é justamente o estilo que ajuda um escritor a parecer novo e envolvente para os leitores.

“Não há novas histórias nem novos enredos; só há novas formas de contar histórias.” (pág.122)

Os algoritmos também revelaram a importância da primeira linha de um livro, onde as melhores frases de abertura contêm todo o conflito da história. Eles identificaram que é necessário entender e trabalhar com convenções de estruturas — das sociais às gramaticais — para formar um conflito em potencial.

Afinal, a primeira frase é o gancho que vai pescar o leitor, apresentando-lhe o enredo do seu livro com uma abordagem cuidadosamente elaborada.

Aí está a astúcia de bons escritores: conquistar o leitor com a criação da ilusão de individualidade, pelo estilo e pela narrativa.

Encontrando o segredo dos livros mais vendidos

Ingredientes para um bom início: uma decisão ativa, dois personagens implícitos, uma referência a laços familiares e conflito no centro, com linguagem simples, fácil de ler, sem uso excessivo de orações ou de palavras desnecessárias e vazias. Tem que ter ação e interação. O efeito da primeira frase é conduzir o leitor até o final do livro; deve passar a sensação de que o autor está no controle do que está por vir e se ele capturou ou não o estilo adquirido para ser um futuro best-seller; criar uma voz moderna e autêntica que vai capturar os leitores; usar a linguagem diária do homem comum.

Dessa forma, descobriram nos best-sellers, o uso frequente de pontos de interrogação, reticências para indicar pensamento inacabado, frases curtas e limpas, e verbos fortes. E com menos presença de advérbios e adjetivos, pontos de exclamação, ponto e vírgula e dois pontos.

No quinto capítulo, analisam as descobertas sobre os títulos dos best-sellers. Geralmente seus títulos se referem a localizações físicas e à captura de eventos. Outros bons títulos são substantivos qualificados por uma palavra específica, como por exemplo “Lágrimas do dragão” e não simplesmente “Lágrimas”. Outros conferem um artigo definido para atribuir mais relevância, como “O presente”. Outras vezes possuem dois substantivos, cuja relação vão gerar perguntas na cabeça do leitor, como “Água para elefantes”.

Quanto à criação dos personagens, um dos segredos são os verbos utilizados. Afinal, personagens devem agir e serem donos de si mesmos, identificando suas necessidades e seguindo para a sua jornada que envolve conflitos e movimento. A ação guia o enredo. Protagonistas são especiais, corajosos e confiantes e os leitores gostam disso.

Verbos fazem parte do segredo dos livros mais vendidos

Trago abaixo uma lista de boa parte dos verbos fortes que aparecem com mais frequência em livros best-sellers do que naqueles que não são.

Pegar, olhar, segurar, gastar, andar, fazer, contar, gostar, orar, beijar, pensar, ver, ouvir, sorrir, abraçar, perguntar, alcançar, puxar, pilotar, empurrar, começar, trabalhar, dirigir, saber, chegar, ser, matar, falar, imaginar, viajar, decidir, prometer, acreditar, amar, odiar, abrir, encarar, socar, preocupar-se, precisar, correr, sentir (saudade), querer, comer, assentir, morrer, fechar, dormir, digitar, assistir, virar, atirar, dizer e desafiar.

Agora, outra lista com verbos empregados com mais frequência em livros menos vendidos.

Parar, interromper, exigir, gritar, interromper, exigir, jogar, girar, estocar, murmurar, protestar, hesitar, aceitar, desgostar, recuperar-se, agarrar, grunhir, espiar, engolir seco, tremer, corar, segurar-se, bocejar, exclamar, abordar.

Os últimos capítulos

O capítulo seis nos traz uma análise do livro apontado pelos computadores como o melhor dentre todos. Eles explicam como o livro preenche os padrões de best-sellers apurados em suas pesquisas e estudos.

Qual é esse livro? “O Círculo”, de Dave Eggers.

Encerrando “O Segredo do Best-Seller”, em seu epílogo e no posfácio, os autores discorrem sobre a possibilidade de máquinas substituírem humanos na escrita literária e falam sobre o histórico do método empregado nas pesquisas, respectivamente.

Conclusão

Enfim, “O segredo do best-seller” é um livro recomendável a todos os escritores iniciantes ou não. No livro, os leitores encontrarão, de uma forma bem apresentada, várias explicações, exemplos e elementos que ajudarão a melhorar a maneira de pensar e de escrever.

Se você é escritor e anda atrás de dicas, não pode deixar de ler esses e outros artigos aqui do blog:

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Bem, espero ter colaborado e até breve!

Livro: O SEGREDO DO BEST-SELLER

Sobre os autores

Jodie Archer – Adquiriu e editou livros para a Penguin UK antes de se dedicar ao programa de doutorado em inglês na Universidade de Stanford. Depois que conquistou seu Ph.D., ela trabalhou na Apple como líder de pesquisas sobre literatura e já foi consultora de vários escritores e empresas sobre sucesso literário. Agora, é escritora em tempo integral.

Matthew L. Jockers – É o professor assistente de inglês de Susan J. Rosowski na Universidade de Nebraska-Lincoln, onde dá aulas e coordena o Nebraska literary Lab. Sua pesquisa já foi destaque no The New York TimesThe Los Angeles Review of Books entre outros.

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