- Gênero: Romance | Público Adulto
— Quem começou esta confusão?
Os olhos do rapaz faiscavam enquanto encarava o homem robusto do outro lado da mesa. Manuel tamborilava os dedos na madeira, impaciente.
— Foi ele, senhor. — acusou Manuel. — Invadiu minha casa!
— Lógico que não! Eu só queria ajuda.
— Pulando minha cerca?
— Que cerca? Dois palanques podres e um arame arrebentado?
Manuel bateu na mesa.
— Da cerca pra dentro, tudo é meu!
O juiz de paz ergueu a mão, tentando acalmar os ânimos.
— Melhor que um de cada vez conte o que houve. Manuel se adiantou.
— Eu primeiro! Tava vendo TV quando os cachorros começaram a latir. Peguei a lanterna e fui ver se tinha algum jaguara rondando. Foi quando achei esse cabra passando a mão no meu gado!
— Não era nada disso! — protestou o rapaz. — Meu vô deixou o boi escapar enquanto enchia o cocho. Ele entrou no terreiro porque não tinha cerca.
O juiz virou-se para Manuel.
— É verdade?
O fazendeiro bufou.
— Desde que esse guri chegou, quer ensinar como plantar, como colher… agora até quer me dizer de quem é o boi!
— O boi é do meu vô! Tá marcado com as iniciais dele.
O juiz se recostou na cadeira.
— Se ele provar que a marca é do avô, Manuel, vai ter que devolver o animal.
O fazendeiro cruzou os braços e soltou um sorriso seco.
— Eu devolvo. Mas só depois que ele me trouxer de volta o coração da minha filha.
O silêncio pesou na sala. O rapaz engoliu seco. Atrás dele, a porta se fechou com um estalo.