- Gênero: Fantasia | Público Infantil
O macaquinho treloso
Na fazenda do Coronel Leão, todos os animais viviam satisfeitos. Os adultos ficavam com o trabalho pesado, é claro, e os filhotes faziam pequenas tarefas, como cuidar dos jardins e lavar a louça após as refeições. Também iam para a escola da professora Pata Patusca e passavam boa parte do tempo brincando. O mais treloso de todos era o macaquinho apelidado de Tião, que sempre dava um jeito de se esquivar das suas obrigações. Malandro como ele só, passava horas pulando entre as árvores e rolando pelo chão. Andava tão sujo, que até parecia um boneco de carvão. Em sua defesa, tinha o sorriso mais aberto e os trejeitos mais engraçados. Era impossível não se render à graça das suas travessuras. Machucar-se, então, era costumeiro, porque não parava quieto e estava constantemente aprontando.
Por vezes Tião sumia. O pai, prevendo a causa do sumiço, saía pelos cantos a procurar:
— Sebastião! Sebastião!
Parecia que todos os pais eram do mesmo jeito. Quando os filhos faziam alguma coisa que desaprovavam, os pequenos já sabiam o que viria pela frente só de ouvir chamar. Bastava gritarem o nome inteiro. Este era o sinal para esperar por repreensão e corretivo.
Um dia, Dona Pata Patusca adoeceu e os filhotes ficaram sem aula. Foi quando resolveram brincar de faz de conta em cima de algumas carroças vazias, que costumavam ser usadas no carregamento de frutas à cidade. Com galhos secos e raspados, improvisaram espadas. As gatinhas Meg, Mia e Bela seriam as princesas; as duas carroças que estavam bem juntinhas seriam as torres do castelo; os porquinhos Heron, Dom e Misso fariam o papel de corajosos soldados que iriam proteger as donzelas; e os malfeitores? O cãozinho Pingo e o macaquinho Tião.
A brincadeira corria solta, com muitas risadas e duelos.
Pingo, além da espada, usava o seu latido, fino, porém, ameaçador. Tião valia-se da ligeirice para se esquivar dos três porquinhos e puxar as fitas que enfeitavam os pelos das gatinhas.
Tudo parecia transcorrer bem até que, sabe-se lá o porquê, os filhotes inventaram de ficar todos de uma vez numa única carroça.
Tião, com as suas macaquices, trepou-se numa das rodas. Balançava-se feito um doido, insistindo nas batalhas, querendo que os bandidos vencessem, vejam só! Ora, todos sabiam que não podia ser assim! Uma das regras de qualquer brincadeira era terminar sempre com os malfeitores presos ou mortos de mentirinha.
A vitória tinha que ser sempre dos mocinhos.
Nisso, no meio daquele alvoroço, por causa de tantos pulos e sacolejos, a roda onde o macaquinho estava pendurado se desprendeu. Foi uma gritaria só. Todos caíram, mas não sofreram nada porque a grama amorteceu a queda. Mas Tião não teve a mesma sorte: agarrado à roda, saiu rolando ladeira abaixo. Rolou, rolou, rolou… até o ponto em que terminava a inclinação do terreno, e tombou no chão com aquele peso arriando por cima de uma das suas pernas.
— Morreu, morreu! — Os bichinhos miavam, latiam e grunhiam desesperados, enquanto corriam para acudir. Após tirarem o amigo debaixo da roda, aos poucos ele foi recobrando os sentidos. Movendo-se bem devagar, soltava um “ai” entre um guinchado e outro a cada tentativa de se levantar, sinalizando que a perna direita podia estar quebrada.
Tendo ouvido a gritaria, o pai de Tião, que estava por perto, foi às pressas ver o que era.
— Que crianças danadas! Sebastião! Sebastião!
Foi só ouvir o pai chamar, que Tião, mesmo mancando, tentou se esquivar do jeito que pôde. Apesar do acontecido, saiu pulando e se arrastando, para se esconder em algum canto, enquanto o resto dos amiguinhos correu um para cada lado.
Nas horas do pega-pra-capar era cada um por si.
Quase meia hora depois foi que o pai conseguiu pegar o macaquinho que tinha literalmente dado no pé, saltitando numa perna só, feito um saci. Foi achado todo encolhido atrás de uma moita, nos fundos da casa principal, com o rabo enrolado entre as pernas.
— Não bate, não, pai! Prometo que não faço mais trela, prometo!
Tião pensou que ia apanhar, mas seu pai, percebendo a gravidade do acidente, queria mesmo é socorrer o filho.
Até o Coronel Leão se apiedou do bichinho. Vendo que a coisa parecia séria, mandou recado ao médico da fazenda, o Dr. Alce Alceu, que prontamente atendeu ao chamado. O resultado? Tião ganhou curativos nos joelhos arranhados e ficou com um inchaço na canela e um galo na cabeça. Então passou um bocado de dias com a perna enfaixada para cima, agoniado sem poder brincar, até ficar bom.
Depois desse breve período de calmaria na fazenda, Tião voltou à ativa com suas macaquices, porém, agora muito mais comportado e cauteloso.
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Observação do Autor
Tião é o filhote mais levado da fazenda do Coronel Leão e só vive aprontando. Mas um dia, o macaquinho treloso aprende uma boa lição.