Março / 2020
#01 – Mar (18/03)
Entrou no mar e esperou que as ondas viessem saudá-lo. A voz das águas, cantando em seu ouvido, era todo o silêncio de que precisava para ouvir o próprio coração.
Palavra doada por Josenilson Costa de Oliveira
#02 – Luz (19/03)
As ondas castigavam a embarcação. O vento fazia vergar as velas, já praticamente partidas. Usou toda a energia que restava para girar o leme na direção da luz, no topo do rochedo. O doutor percebeu, com pesar, que o coração do paciente havia parado.
Palavra doada por Karina Araujo (@Karinaawiii)
#03 – Decência (20/03)
Levantou-se cedo e se vestiu em silêncio. Saiu do quarto sem acordá-la. A noite foi ótima, mas não era o tipo de homem que ficava para o dia seguinte. Já na porta, olhou para trás, voltou e regou a planta na mesinha da sala. Ainda lhe restava um pouco de decência, afinal.
Palavra doada por Raul Costa (@RaulCosta86)
#04 – Banheiro (21/03)
Naquele domingo acordou determinado. Após o café, munido de escova, balde e uns produtos de limpeza lavou cada canto do banheiro. Ao final, sentou-se no chão e teve certeza. Se tivesse limpado sua sujeira antes, ainda a teria na casa para compartilhar um sorriso.
Palavra doada por Lilian Stocco (@LilianStoccoArts)
#05 – Cegueira (22/03)
Perdeu a visão no início da adolescência. Já adulto, costumava parar em um bar ou na esquina para ouvir as conversas das pessoas. Percebeu, com tristeza, que a pior cegueira era o medo das pessoas de enxergar a verdade.
By: Josenilson Costa de Oliveira
#06 – Herdeira (23/03)
Tudo foi doado à caridade. Como herdeira, só recebeu um envelope. Abriu e sorriu aliviada. Saiu do escritório com a roupa do corpo e partiu no primeiro trem. Recebera de herança uma folha em branco para escrever a própria história.
Palavra doada por Nathalia (@AFlorestaLis)
#07 – Omitir (24/03)
Tinha medo da rejeição das pessoas, e sempre fazia o que lhe pediam com um sorriso no rosto. De tanto omitir seus desejos e opiniões, já não lembrava mais que existia.
Palavra doada por Ju Pequena (@Jus_PequenaBjj)
#08 – Pedra (25/03)
Terminou de escalar a rocha e, ofegante, sentou-se ao lado do mestre sem entender a razão de tudo aquilo. “Para o indisposto, a pequena pedra é obstáculo impossível. Para o disposto, a grande montanha é oportunidade preciosa”, disse o mestre com humildade, apontando para a paisagem à sua frente.
Palavra doada por Josenilson Costa de Oliveira
#09 – Encômio (26/03)
Dirigiu habilmente seu encômio ao líder no centro do palco. Sabia de sua predileção pelos elogios e bajulação fútil. Permitiu-se rir, sabendo que enquanto os aplausos explodiam no grande salão, o veneno da arrogância corroía rapidamente a alma do tolo com a coroa.
Palavra doada por Paulo Santana (@Paullo_Snt)
#10 –Abandono (27/03)
Na fila da sopa, aguardou pacientemente. Recebeu um pão para reforçar a refeição. Sentou-se num canto. Acariciou o vira-latas ao seu lado e ofereceu-lhe um pedaço do pão. No abandono, não há diferença entre homens e animais.
Special thanks Juh Oliveira (@EllenCostaEscritora)
#11 – Fracos (28/03)
A verdade é para os fracos. Os fortes mentem e vivem com isso, pensou. A luz fugiu dos olhos e o som da pá abafou enquanto a terra fria lhe cobria o rosto. Sentiu o ar sumir dos pulmões. Devia ter aprendido a mentir, concluiu.
Palavra doada por Josenilson Costa de Oliveira
#12 – Clímax (29/03)
Seu corpo esquentou rápido. As ondas de prazer chegaram ao mesmo tempo em que os gemidos explodiram na cama. Chegaram juntos ao clímax. Percebeu que sorria ao vê-la ofegante e satisfeita. Respirou fundo. Melhor esperar o amante ir antes de sair do guarda-roupas.
Palavra doada por Josenilson Costa de Oliveira
#13 – Jogos (30/03)
Era um viciado. Rolou os dados na mesa encarando a ruiva de decote generoso. Ela sorriu de volta com o erro crítico, virou-se e foi embora. Desistiu. Jogos de RPG não eram para ele.
Palavra doada por Marry Gabriele (@MarryGabriele)
#14 – Quiabo (31/03)
Passou pela gôndola de frutas e irritou-se com os preços da banana e da laranja. Viu o letreiro do quiabo e teve certeza, aquilo ia foder a economia.