Dedo Colado

  • Gênero: Suspense | Público Adulto

Algumas portas não devem ser abertas!

Adoro a sensação quentinha da coberta…. sei que o sol já nasceu, mas finjo que não percebo e permaneço de olhos fechados aproveitando o colchão macio, o lençol suave, a cama enorme que nem lembro de ter comprado. Ignoro a luz que entra pela enorme janela do quarto… espera aí, eu não tenho janela grande no quarto!

Me viro na cama e uma dor na base das costas faz os pés se contorcerem. Sonolenta levo a mão direita ao local da dor e sinto um enorme vergão que lateja. Um pensamento escapa furioso.

– Puta que pariu, meu rim!

A dor se mistura ao terror enquanto me arrasto da cama. Um espelho com adornos em art nouveau é a primeira coisa que vejo. Cambaleio até ele.

– Boa noite, Cinderela, não! Boa noite, Cinderela, não!

Reúno a coragem em meio aos soluços e giro o corpo para ver as marcas da tragédia na carne. Tenho dois enormes vergões nas costas. Um na altura do rim direito. Não há cortes!

– Graças a Deus! – choramingo.

Só então percebo o calor entre as pernas e me dou conta de que urinei em mim mesma. Sento tentando recuperar as forças e a razão.

– O que diabos aconteceu comigo? – Estou confusa.

Observo o quarto. Enorme e luxuoso. Definitivamente não tenho como pagar por isso sendo uma escritora de romances eróticos nacionais. Olho em direção à janela, mas um zunido desvia minha atenção. Sobre o criado mudo, do outro lado da cama meu celular vibra. O despertador marca 8h da manhã. Desativo o alarme. Sento-me na cama e a mente clareia um pouco.

– A casa de swing!

As primeiras memórias retornam. Eu estava sem ideias para concluir o romance e resolvi ir em uma casa de swing para fazer pesquisa de campo ontem à noite. Claro! Que ideia idiota. O celular vibra novamente.

– Oi gata, já acordou? – Uma mensagem surge na tela.

– Quem é você? – Teclo de volta no WhatsApp.

– Nossa, é mal-humorada quando acorda. Hihihi.

– Só quando não sei onde estou e o que puseram na minha bebida!

– Em qual bebida? Porque você tomou todas… ^__~

Imagens de estranhos ao meu redor aplaudindo enquanto entorno mais dois shots de tequila e chupo um limão colidem em minha consciência e fico desconcertada.

– Ainda está aí, delícia? – Mais uma mensagem.

– Estou.

Uma chamada de voz surge na tela do app.

– Oi delícia! Que noite inesquecível!

– Quem está falando? – Exijo saber.

– Nossa, que petulante. Se falar assim novamente vou te castigar outra vez!

– Que porra de castigar. Quem é você e do que está falando?

– Isso magoou. Ontem à noite você disse que nunca ia me esquecer eu e minha língua enquanto estávamos entre as suas pernas…

Sinto o corpo queimar com a afirmação. Que vergonha!

– Não sei do que está falando. Vou desligar….

– Me chama de “Dedo Colado”, é meu codinome da night. Deixei uma pomada na primeira gaveta do criado mudo, caso ainda esteja doendo.

– Doendo o que? Aí! – Respondo e a dor dos vergões me lembra do que ela está falando.

– Eu não queria exagerar, mas você é muito exigente. Não podia deixar de satisfazer as necessidades de uma sub. Hihihi.

– Foi você quem fez isso nas minhas costas, sua maluca?

– Só fiz o que você pediu, mel!

– Não sei do que está falando. E meu nome não é Mel! – Devolvo com plena consciência de que sei exatamente do que ela está falando… A casa de swing, a tequila, a feme fatale mascarada… eu participei de uma play party de BDSM com essa mulher…. Merda!

– Eu estava falando do seu gosto. Mel. Não do seu nome!

Tenho certeza de que o calor entre as pernas é de raiva e não da lembrança daquela língua quente e das chibatadas da noite passada!

– Que lugar é esse? – Mudo o foco.

– Curtiu o apê? Não esquece de me enviar as fotos de ontem. Saí apressada e esqueci de copiar. – Ela ignora a pergunta.

Fotos? Puta merda, Nataly! O que foi que você fez agora? Ativo o viva voz e abro a câmera. Caralho! A primeira foto me tira o ar. Sou eu, peitos à mostra enquanto um cara derrama bebida em mim e uma mulher lambe tudo! Zapeio as fotos. Surge uma imagem minha, só de fio dental rebolando com notas de cinquenta… não é possível! Bate o desespero. E se alguém ver essas imagens? Minha vida está acabada! A última imagem é demais para mim! Estou beijando uma mulher enquanto a outra está com a boca na minha…

– Preciso de uma água. – Digo deixando o celular sobre o criado mudo para ir até a cozinha.

– Tem uma jarra de água no móvel ao lado do espelho. – Ouço ela falar.

– Preciso de algo gelado. – Respondo.

– Não tem água no freezer! Beba do jarro! – Ouço o grito abafado do celular, mas ignoro.

Preciso me refrescar. O freezer é enorme, daqueles modelos americanos. Abro e fico olhando perdida por um tempo sem entender direito. Cadê a água? E que potes enormes são esses? Parece que ela é viciada em molho de tomate! Pego um dos potes e abro.

– Que porra é essa? – Grito. Uma vertigem me pega desprevenida. Derrubo o pote no chão e volto para o quarto cambaleando.

– Delícia, você está bem?

Pego o celular e sem muita certeza falo.

– O que é aquilo no freezer?

– Você abriu? Caramba, eu disse para beber da jarra! O Nelson não gosta que mexam nas coisas dele!

– Quem é Nelson e o que é aquilo?

– O dono do apê. Você não mexeu em nada, né? Se algum dos produtos estragar ele mata a gente.

Meu estômago embrulha na hora.

– Acho que vou vomitar. – Digo e saio correndo.

– Não usa o banheiro de hóspedes! – Ela grita pelo viva voz.

Entro no banheiro e vomito na pia. Me arrependo na mesma hora. Gelo… muito gelo boiando na água vermelha da banheira. Grito e corro para o quarto procurando minhas roupas.

– Cacete, Mel! Você foi no banheiro? Eu disse para não ir! – A voz dela me desperta.

– Que porra é aquela?

– O Nelson não vai gostar.

– Não vai gostar? Tem uma mulher morta no banheiro! A outra mulher das fotos de ontem! Como vou explicar isso para a polícia?

– Tá louca? Não chama a polícia! Vai ferrar o esquema do Nelson.

– Esquema? Que porra ele faz?

Ouço o barulho do trinco e o rangido da porta do apê abrindo….

– Ele trafica órgãos….

Um pensamento escapa furioso.

– Puta que pariu, meu rim!

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