Todo leitor deveria saber (e fazer)

 

O QUE TODO LEITOR DEVERIA SABER (E FAZER)

LER É UMA NECESSIDADE, TODO LEITOR JÁ SABE

O que todo leitor deveria saber e fazer para tirar mais proveito do que lê? Inegavelmente, a leitura faz parte do dia a dia das pessoas. Precisamos ler manuais, bulas de remédios, relatórios, mensagens e por aí vai. Sem falar nos jornais, revistas e sites onde buscamos informações. Livros também são mais que necessários para estudos, enriquecimento do vocabulário, ampliação do conhecimento da língua, entretenimento e cultura.

A princípio, a leitura de livros pode parecer apenas um entretenimento, mas se observarmos bem ela tem uma função bem maior:

  • podemos aprender sobre lugares, costumes, história, expressões idiomáticas etc.;
  • agregar vocabulário que vai variar de acordo com cada gênero, com cada tema, com cada autor e com cada época;
  • gerar conexões com outras leituras ou com informações já possuídas, estimulando a memória e o raciocínio;
  • despertar o interesse em ampliar o conhecimento sobre determinado tema, levando o leitor a pesquisas e a outras leituras;
  • despertar o lado criativo e expandir os horizontes do pensamento, principalmente com a leitura de ficção científica e de fantasias. Afinal, a leitura não é passiva; e
  • gerar insights para quem gosta de escrever. Aliás, a forma de escrever de cada autor pode ser alvo de inspiração para novos escritores, que podem fazer anotações, criando bancos de palavras, de frases, de lugares, de ideias, de nomes de personagens, de formas de descrição etc.

LER NÃO É APENAS REPETIR O QUE SE VÊ ESCRITO

Assim como os personagens, as histórias também possuem “camadas”. À primeira vista, um livro que traz um romance cheio de obstáculos entre dois jovens, por exemplo, pode ser muito mais do que uma simples história de amor. Na subtrama podemos facilmente identificar a mensagem de positivismo, de que com determinação, força e crença nos bons sentimentos é possível superar barreiras e atingir os objetivos.

Porém, é comum as pessoas relatarem dois obstáculos (ou desculpas) para não lerem:

  • não tenho tempo; e
  • quando começo a ler me dá sono.

“Entre todas as artes, a mais difícil é aprender a ler. Há oitenta anos dedico-me à leitura e ainda não creio ser suficiente” (Goethe)

A verdade é que muitas pessoas não querem sair da sua zona de conforto. Da mesma forma que precisamos exercitar o corpo nós necessitamos exercitar a mente. O sono vem porque a mente não está habituada ao exercício da leitura. Basta criar esse hábito, insistindo, começando por leituras mais fáceis e envolventes, que em poucos dias o sono deixa de aparecer durante as primeiras páginas percorridas.

FORMAS EFICIENTES DE LEITURA:

  • marcar nos textos as passagens mais relevantes; e
  • anotar insights e opiniões que vão surgindo e se formando em sua mente, após a leitura de trechos, parágrafos ou tópicos.

Afinal, a leitura, como já falei, não é uma atividade passiva. O leitor ativo critica, questiona, resume, procura compreender a intenção do autor, capta as mensagens e chega a conclusões. Ler é acumular, gradativamente, informações e experiências para a formação das suas próprias opiniões; é estimular o raciocínio; é exercitar o cérebro. Por isso a leitura ativa inspira, transforma pensamentos e, consequentemente, atitudes.

O processo da leitura ativa consiste em:

  • identificar as palavras;
  • interpretar o pensamento do autor;
  • compreender o texto;
  • fixar as ideias; e
  • reproduzir as ideias.

Durante a leitura, o leitor cria imagens em sua mente como um filme a passar e identifica as palavras no contexto. Dessa forma,  facilita a sua compreensão, com a possibilidade de voltar ao texto quantas vezes forem necessárias. Assim a leitura é mais eficaz para tirar dúvidas e fixar ideias, superando os atos de apenas ouvir ou assistir. Afinal, a quantidade de meios de transmissão de informações e de entretenimento é tão grande e o tempo das pessoas é tão corrido que as leva a não se aprofundarem. Elas não refletem e nem compreendem a totalidade daquilo que estão consumindo.

A compreensão do que se lê se torna mais eficaz se você:

  • possuir um bom vocabulário;
  • conhecer mais sobre o autor; e
  • conhecer mais sobre a época e o ambiente nos quais o texto foi escrito e nos quais a história se passa (nos casos de textos não contemporâneos ao autor).

Tudo isso vai refletir diretamente na sua forma de se expressar, tanto na fala como na escrita.

POR QUE LEMOS MAL?

Só a leitura atenta vai permitir a absorção dos elementos mais importantes do texto.

Neste caso, nem sempre a quantidade de livros lidos está vinculada ao bom leitor. Como já vimos, a leitura atenta demanda tempo e foco. A leitura exige reflexão. Só assim podemos compreender ou questionar as colocações do autor.

“Vulgar é ler, raro refletir. Não é proveitosa a leitura quando não atenta.” (Rui Barbosa)

Precisamos ter um modo de leitura para cada tipo de livro. Livros científicos e pedagógicos devem ser lidos de forma diferente de obras literárias e poéticas. Um jornal não pode ser lido da mesma forma que um livro de filosofia.

A técnica que se deve empregar na leitura vai depender do assunto, da intenção do autor e do nosso objetivo ao ler um livro.

Em textos informativos, somente o conteúdo interessa; nos textos literários, a forma da escrita também é importante. Alguns assuntos permitem uma leitura rápida. Outros uma leitura mais atenta e cuidadosa.

TODOS OS LEITORES PODEM EXERCITAR A MENTE

O bom leitor, ao terminar um livro, busca informações complementares, esclarecimentos e temas afins para confirmar ou não e ampliar as suas impressões. O bom leitor se apropria daquilo que lê; questiona se o autor está certo ou não.

Mas saiba que melhor do que se informar, é ficar esclarecido.

Se a memória for exercitada pode ser melhorada e ajudar a fixar as ideias daquilo que lemos.

Exercícios de memorização:

  1. Faça uma lista de 20 palavras e leia em voz alta. Depois, pegue uma folha de papel e escreva todas as palavras que lembrar e só então compare a lista para ver quantas palavras acertou.
  2. Peça para alguém ler para você em voz alta 20 palavras de uma segunda lista. Pegue um papel e escreva todas as palavras que lembrar e veja quantas acertou.
  3. Leia mentalmente as 20 palavras de uma terceira lista. Escreva em um papel todas as palavras que lembrar e veja quantas acertou.
  4. Faça esse tipo de exercício com várias listas que você vê no dia a dia. Por exemplo, uma lista de promoções do supermercado, enquanto espera na fila do caixa, a lista de estações do metrô, o cardápio de um restaurante etc.
  5. Depois, faça esse mesmo exercício com imagens e com objetos dispostos em um único lugar.

A FALTA DE PRÉ-LEITURA

Muitas pessoas pegam um livro e imediatamente começam a leitura pelo primeiro capítulo. Folhear o livro antes dá a percepção se é algo que vai interessar ler naquele momento, se ele trata do assunto que você está procurando, se faz parte de alguma série ou coleção de livros, ter informações sobre o autor, situar o contexto/época em que a obra foi escrita etc.

Por isso a importância de ler todos os elementos pré textuais:

  • Quarta capa ou contracapa: geralmente tem a sinopse ou alguma opinião mais detalhada sobre a história. Pelos elementos da capa e da contracapa você já identifica o tipo de livro e o gênero da escrita. Nos livros que não possuem orelhas a contracapa também pode trazer a foto e a minibiografia do autor;
  • Orelha da capa: pode ter informações sobre os personagens, trechos do livro, opiniões relevantes e de críticas positivas dos veículos de comunicação ou o resumo da obra;
  • Orelha da contracapa: costuma trazer a foto do autor e sua biografia, ou trechos da obra, ou mesmo a continuação do resumo da obra;
  • Folha de rosto e página de créditos: você tem informações como ano da publicação e profissionais envolvidos na produção do livro;
  • Agradecimentos: é o reconhecimento do autor às pessoas que colaboraram de alguma forma para que o livro fosse concluído — familiares, amigos, mentores;
  • Índice e sumário: vão te permitir ver listados os itens, assuntos ou capítulos abordados no livro;
  • Prefácio: onde o autor, ou outra pessoa, dá a sua opinião sobre a obra e/ou sobre o autor, dizendo ao leitor o que ele vai encontrar no livro;
  • Prolegômenos: não é usado em livros de ficção; refere-se a um amplo texto introdutório que contém as noções preliminares necessárias à compreensão do livro; e
  • Introdução: traz explicações que facilitarão a compreensão do leitor;

“É preciso que a leitura seja um ato de amor.” (Paulo Freire)

Com essa frase, Paulo Freire quis nos falar sobre o amor ao próximo que praticamos ao alfabetizarmos alguém, principalmente aqueles que não tiveram oportunidades, e abrir-lhes os horizontes para a leitura. Um ato de cidadania e de amor fraterno.

Porém, ninguém consegue sempre transmitir exatamente o que está pensando ou tentando dizer.

Isso só seria possível em 100% das comunicações se cada palavra tivesse apenas um único significado.

Esse já é um bom motivo para todas as frases, parágrafos, capítulos e até mesmo o livro inteiro serem lidos mais de uma vez, caso algo não seja compreendido.

Quando alguém se predispõe à leitura deve ir imbuído de boa vontade para focar nessa atividade e para compreender o que o autor está querendo passar com as suas palavras.

No caso de textos mais complexos, se você vai ler uma obra de Shakespeare, por exemplo, o ideal é fazer primeiro uma leitura corrida direta, sem retrocessos e sem interrupções.

Nessa primeira leitura apreenderemos apenas uma pequena parte do que o autor nos quis transmitir.

Então numa segunda leitura podemos trabalhar por partes, fazendo paradas para pesquisas e outras consultas e se ater aos pontos de maior interesse.

Como a nossa memória tem que armazenar uma infinidade de informações, o ideal é fazermos anotações nos próprios livros ou em fichas, sublinhar frases, utilizar marcadores ou postites.

Assim, no futuro, essas marcações nos servirão para avivar a nossa memória ou nos indicar as partes mais interessantes daqueles livros, quando necessitarmos voltar a eles.

ALGUMAS CURIOSIDADES SOBRE A LEITURA E O NOSSO CÉREBRO:

  • um vocabulário rico e situado em um contexto claro e específico nos permitem uma compreensão mais exata;
  • quando passamos por palavras já bastante conhecidas a ausência de alguma letra não impede que saibamos ler e interpretar o que está sendo colocado; e
  • a parte superior das letras é o melhor ponto de foco da visão para a leitura.

Mais importante do que ler muito e ler rápido, é ler bem.

Agora que você já viu a importância de ter uma leitura diversificada, navegue pelo Epicentro Literário e leia mais textos gratuitamente. Aqui você pode ler sobre antologias e coletâneas,

 

Referência: livro “Por que lemos mal e como estudar melhor” , de Eli Rozendo dos Santos, Ediouro, 1980.