Os Irmãos Grimm, Jacob e Wilhelm Grimm

Branca de Neve

  • Gênero: Fantasia | Público Infantil

Um dia, a rainha de um reino muito distante bordava perto da janela do castelo, uma grande janela com batentes de ébano, uma madeira escuríssima. Era inverno, e a neve caía com muita força. Em certo momento, a rainha desviou o olhar para admirar os flocos de neve que dançavam no ar. Distraída, acabou furando o dedo com a agulha.

Na neve acumulada no beiral da janela caíram três gotinhas de sangue. O contraste foi tão bonito que a rainha murmurou:

— Ah, se eu pudesse ter uma menina branca como a neve, corada como o sangue e com os cabelos negros como o ébano…

Alguns meses depois, o desejo da rainha se realizou. Ela deu à luz uma menina de cabelos bem pretos, pele alva e face rosada. O nome dado à princesinha foi Branca de Neve. Contudo, ao nascer a menina, a rainha morreu.

Um ano depois, o rei se casou novamente. Sua nova esposa era lindíssima, mas extremamente vaidosa, invejosa e cruel.

Essa rainha possuía um espelho mágico, dado por um feiticeiro, ao qual todos os dias perguntava com vaidade:

— Espelho, espelho meu, diga-me se há no mundo mulher mais bela do que eu.

E o espelho sempre respondia:

— Em todo o mundo, minha querida rainha, não existe beleza maior.

O tempo passou, e Branca de Neve cresceu, tornando-se cada vez mais bela. Até que, um dia, o espelho deu outra resposta à rainha:

— A sua enteada, Branca de Neve, é agora a mais bela.

Dominada pela inveja e pelo ciúme, a rainha chamou um de seus guardas e ordenou que levasse Branca de Neve até a floresta para matá-la. Como prova do feito, ele deveria trazer o coração da jovem.

O guarda obedeceu à ordem. No entanto, ao chegar à floresta, não teve coragem de enfiar a faca na bela jovem inocente, que nunca fizera mal a ninguém. Comovido, permitiu que ela fugisse. Para enganar a rainha, matou um veadinho, retirou o coração e o entregou a ela. A rainha, tomada pela satisfação, acreditou que Branca de Neve estava morta.

Enquanto isso, Branca de Neve corria floresta adentro, desesperada para se afastar da madrasta e do perigo. Os animais da floresta, ao vê-la, aproximavam-se com gentileza, sem a atacar. Até mesmo os galhos das árvores pareciam se abrir para deixá-la passar.

Ao anoitecer, quando já não conseguia mais se manter em pé de tanto cansaço, Branca de Neve avistou uma clareira onde havia uma casa bem pequena. Curiosa, entrou para descansar um pouco.

Olhou em volta e ficou maravilhada: sobre uma mesinha estavam dispostos sete pratinhos, sete copinhos, sete colheres, e sete garfinhos minúsculos. No andar superior, alinhadas lado a lado, havia sete caminhas com cobertas muito brancas.

Com fome e sede, Branca de Neve experimentou uma colher da sopa de cada pratinho, tomou um gole de vinho de cada copinho e, ao subir, deitou-se em cada caminha até encontrar a mais confortável. Por fim, ajeitou-se nela e caiu em um sono profundo.

Já era noite quando os donos da casa voltaram. Eram sete anões que trabalhavam numa mina de diamantes dentro da montanha.

Assim que entraram, notaram algo estranho: um pouco de sopa faltava nos pratinhos, e os copos não estavam mais cheios de vinho. Subindo ao andar superior, perceberam que as cobertas das caminhas estavam desarrumadas.

Na última cama, para a maior surpresa de todos, encontraram uma linda jovem adormecida. Seus cabelos eram pretos como o ébano, sua pele era branca como a neve, e suas faces rosadas como o sangue.

— Como ela é linda! — murmuraram em coro.
— E deve estar muito cansada — disse um deles. — Dorme tão profundamente…

 

Branca de Neve de Otto Kubel

Ilustração de Branca de Neve e os Sete Anões, c.1900 (ilustração) · Otto Kubel

 

Resolveram não incomodá-la. O anão dono da cama onde a jovem repousava decidiu passar a noite em uma poltrona.

Na manhã seguinte, quando despertou, Branca de Neve encontrou-se cercada pelos sete anões barbudinhos e, assustada, recuou. Eles, porém, rapidamente a tranquilizaram, dizendo que ela era muito bem-vinda.

— Como se chama? — perguntaram.
— Branca de Neve — respondeu ela.

— Mas como você chegou até aqui, tão longe, no coração da floresta?

Branca de Neve contou tudo: falou da crueldade da madrasta, da ordem para matá-la, da piedade do caçador que lhe poupou a vida desobedecendo à rainha, e de sua longa caminhada pela mata até encontrar aquela casinha.

— Fique aqui, se gostar… — propôs o anão mais velho. — Você poderia cuidar da casa enquanto nós estamos na mina, trabalhando.

— Mas tome cuidado enquanto estiver sozinha — advertiu outro anão. — Mais cedo ou mais tarde, sua madrasta descobrirá onde você está. E, se ela a encontrar… Não deixe ninguém entrar! Será mais seguro.

Assim, começou uma nova vida para Branca de Neve, uma vida de trabalho e companheirismo com os anões.

E a madrasta? Estava satisfeita, acreditando que não havia mais mulher alguma no mundo que superasse sua beleza. Porém, um dia, teve a ideia de consultar novamente o espelho mágico:

— Espelho, espelho meu, diga-me se há no mundo mulher mais bela do que eu.

E o espelho respondeu com uma voz grave:
— Na mata, na casa dos mineiros, querida rainha, está Branca de Neve, mais bela do que nunca!

A rainha percebeu que fora enganada pelo guarda: Branca de Neve ainda vivia! Tomada pela inveja, resolveu agir por conta própria, garantindo que não haveria, em todo o mundo, mulher mais linda do que ela.

Disfarçou-se de velha mercadora, pintando o rosto e cobrindo a cabeça com um lenço, tornando-se irreconhecível. Assim disfarçada, partiu para a floresta em busca da casinha dos anões.

Ao encontrá-la, bateu à porta, e Branca de Neve, ingenuamente, foi atender. A falsa mercadora mostrou suas mercadorias, e a jovem logo se encantou com um cinto colorido e delicado.

— Deixe-me ajudá-la a experimentar o cinto. Você ficará com uma cintura fininha, fininha — disse a falsa vendedora, soltando uma risada irônica e estridente enquanto apertava o cinto cada vez mais.

A mulher apertou tanto que Branca de Neve começou a sufocar. Sentiu-se fraca, e logo desmaiou, caindo ao chão como se estivesse morta. Satisfeita, a madrasta fugiu sem olhar para trás.

Pouco depois, os anões retornaram à casa e ficaram horrorizados ao ver Branca de Neve estirada no chão, imóvel. O anão mais jovem percebeu que o cinto estava muito apertado e rapidamente o cortou. Assim que o cinto foi afrouxado, Branca de Neve voltou a respirar. Sua cor retornou aos poucos, e ela recobrou os sentidos, conseguindo narrar o que havia ocorrido.

— Aquela vendedora ambulante era a rainha disfarçada! — exclamaram os anões. — Você não deveria tê-la deixado entrar. Agora, precisa ser mais cuidadosa.

Enquanto isso, a rainha, de volta ao castelo, consultava mais uma vez seu espelho mágico. Sua confiança logo se desfez ao ouvir a resposta:

— No bosque, na casa dos anões, minha querida rainha, está Branca de Neve, mais bela do que nunca.

Seu plano fracassara novamente! Mas a inveja não a deixava desistir. Determinada a acabar com Branca de Neve, preparou um novo plano.

No dia seguinte, Branca de Neve viu aproximar-se uma camponesa de aparência gentil. Sem dizer palavra, a mulher colocou sobre a janela uma maçã vermelha, de aparência suculenta, e sorriu, revelando um sorriso desdentado.

Branca de Neve, ingênua e encantada pela fruta, não suspeitou que aquela fosse sua madrasta, disfarçada em mais uma tentativa cruel. Levou a maçã à boca e, com gula, deu uma mordida. No mesmo instante, antes mesmo de engolir o primeiro pedaço, caiu no chão, imóvel.

Dessa vez, parecia realmente morta. Quando os anões retornaram da mina, encontraram-na caída, mas nenhum esforço para reanimá-la funcionou. Não havia cinto apertado, nem ferimento algum — apenas seu corpo inerte, tão belo quanto antes.

Os anões ficaram devastados. Branca de Neve parecia dormir, tão linda que eles não tiveram coragem de enterrá-la.

— Vamos construir um caixão de cristal para nossa Branca de Neve — sugeriram. — Assim, poderemos admirar sua beleza para sempre.

Com grande cuidado, construíram um esquife de cristal e o colocaram no topo de uma montanha. Na tampa, gravaram em letras douradas: “Branca de Neve, filha de rei.”

Os anões passaram a vigiar o caixão dia e noite. Os animais da floresta — veados, esquilos e lebres — se juntaram ao luto, chorando pela jovem princesa que tanto amavam.

Lá no castelo, a malvada rainha interrogava o espelho mágico mais uma vez:
— Espelho, espelho meu, diga-me se há no mundo mulher mais bela do que eu.

A resposta era sempre a mesma:
— Em todo o mundo, não existe beleza maior.

Enquanto isso, Branca de Neve permanecia no caixão de cristal, parecendo apenas dormir. Seu rosto branco como a neve, os lábios vermelhos como o sangue e os cabelos negros como ébano continuavam a torná-la tão bela quanto fora em vida.

Um dia, um jovem príncipe, que caçava nas redondezas, chegou ao topo da montanha. Assim que avistou o caixão e o rosto de Branca de Neve, sentiu-se tomado por um amor avassalador, mesmo acreditando que ela estivesse morta. Com o coração apertado, pediu permissão aos anões para levar consigo o caixão de cristal.

— Há tanto amor em sua voz — disse um dos anões, comovido. — Se é isso que deseja, nós o ajudaremos a transportá-la para o vale.

Os anões ergueram o caixão e começaram a descida por um caminho íngreme. Mas, durante o trajeto, um dos anões tropeçou em uma pedra e quase caiu. No solavanco, o caixão se inclinou, e o pedaço da maçã envenenada que estava preso na garganta de Branca de Neve foi expelido.

Para a surpresa de todos, a jovem abriu os olhos. De início, respirou profundamente, depois sentou-se e, assustada, perguntou:
— O que aconteceu? Onde estou?

O príncipe e os anões, exultantes de alegria, explicaram tudo o que havia ocorrido. O príncipe, tomado pela emoção, declarou-se a Branca de Neve e pediu-a em casamento. Com o coração cheio de felicidade, ela aceitou.

Os dois partiram para o palácio real, onde a corte os recebeu calorosamente. Convites foram distribuídos para a grandiosa cerimônia nupcial. Entre os convidados estava a rainha madrasta, que ainda não sabia que a noiva era sua enteada.

Vestiu-se a megera com suntuosidade, adornou-se com suas joias mais brilhantes e, antes de sair para a cerimônia, perguntou ao espelho mágico:
— Espelho, espelho meu, diga-me se há no mundo mulher mais bela do que eu.

Dessa vez, a resposta foi diferente:
— No seu reino, a mais bela é você; mas a noiva, Branca de Neve, é a mais bela do mundo.

Louca de ódio, a rainha correu para a cerimônia, mas, ao avistar Branca de Neve, sua ira atingiu o auge. Seu coração explodiu de fúria, e ela caiu morta, vítima de sua própria inveja.

Apesar disso, os festejos não foram interrompidos. Os anões, convidados de honra, celebraram a união de Branca de Neve e do príncipe por três dias e três noites. Depois, voltaram felizes para sua casinha e para a mina no coração da floresta, enquanto Branca de Neve e o príncipe viveram felizes para sempre.

 

Nota sobre o conto Branca de Neve

O conto Branca de Neve, na versão apresentada acima, corresponde à versão publicada pelos Irmãos Grimm, na  coletânea Kinder-und Hausmärchen (Contos de Fadas para Crianças e Adultos), em 1857. O conto possuí outras versões, sendo a primeira (1812), mais sombria e violenta. Nele, a madrasta é forçada a calçar sapatos de ferro aquecidos ao rubro e dançar até morrer durante o casamento de Branca de Neve.

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