Estava eu convidando os clientes da Leitura, uma livraria de um shopping, para um bate-papo com quatro escritoras de Belo Horizonte, quando vi duas moças em apuros. Gritavam desesperadas! Então me aproximei e percebi que estavam sob ataque! Das prateleiras altas da seção de presentes, bichos de pelúcia caíam sobre elas!
Vendo a situação, aproximei-me para ajudá-las a se livrar de tão forte ofensiva, quando o maior deles — que me pareceu ser o mandachuva, caiu sobre mim, imobilizando nós três. Ficamos soterradas por tão fofos bichinhos, mas sem nos atrever a mexer, com pena de provocar uma hecatombe de mais e mais peludos.
Naquele átimo, lembrei-me de um filme que assisti tempos atrás, sobre bichinhos terríveis que se multiplicavam medonhamente se expostos à água. Senti como se fizesse parte de tal roteiro terrível e assustador.
Respirei fundo e me atraquei com meu contendor. Ele tinha meio metro a mais de altura e um peso inesperado para urso de pelúcia. Que pais dariam tal monstro para o filho? Fiquei imaginando uma linda criança sendo soterrada por um urso 10 vezes o seu peso e tamanho…
Mas o bicho era bom de briga, escorregava de minhas mãos que tentavam em vão agarrá-lo. Minhas duas parceiras estavam às voltas com muitos, mas pequenos peludinhos que também fugiam de suas incautas mãos!
A coisa começou a sair do controle quando percebi que aquela cena grotesca chamava a atenção de muitos clientes da loja. Para piorar, veio-me uma crise de riso que só me assalta em momentos espúrios assim, mas ninguém pensou em nos ajudar. Pelo contrário, achavam graça no grotesco da situação: três moçoilas lutando contra uma legião de bichos peludos enlouquecidos!
Vendo que ninguém nos salvaria, olhamos umas para as outras e, num esforço hercúleo, alçamos para as prateleiras mais altas os bichanos assanhados.
Finda a batalha, convidei as duas colegas de labuta para participarem de um bate-papo sobre Literatura. Quando me apresentei como escritora, me olharam estranho e pude ver passando por suas mentes o motivo provável de tal ataque insano. Teria sido premeditado pelo urso chefe maior? Mas que me conste, nunca em meus escritos o ofendi nem a nenhum de seus parentes…
Despedi-me das meninas, ajeitei meus cabelos e roupas em desalinho — a briga fora boa — e olhei, já do alto da escadaria em segurança, para a prateleira forrada de bichos de pelúcia. Pareciam tão pacíficos e sorridentes!
Ia me virando, quando percebi um leve movimento do dedo médio do urso maior, ou teria sido impressão minha? Vai saber!
(In: O afilhado do capeta e outros contos)