As tramas do passado Parte 2

  • Gênero: Drama | Público Adulto

Antes do sol nascer, o comendador estava a caminho para seu encontro com o Ministro da Economia e o Ministro da Fazenda. A reunião durou mais do que ele esperava. De repente, pensou em como Ayla estaria se sentindo naquela manhã.

 

Sua mente vagou até a sala de leitura, onde ela costumava ficar. Observava à distância. Sua feição delicada mudava de expressão conforme virava as páginas. Será que seu interesse pelo povoado era apenas um disfarce? Seria realmente uma mulher bondosa? Ele ouvia relatos de mulheres gananciosas que persuadiam os maridos para satisfazer sua sede por riqueza. Ela, em vez disso, queria que ele concedesse moradias decentes aos trabalhadores rurais?

 

— Senhor Comendador, está tudo bem? Parece preocupado com algo.

 

— Perdoe-me, senhores. Não é nada que não possa ser resolvido quando eu chegar em casa. Podem continuar com o assunto.

 

Quando retornaram à mansão, Ayla estava aliviada. Reencontrar antigos servos trouxe lembranças amargas: das brigas incessantes com seus pais, do deslocamento que sentia, da frieza e da solidão.

Após retornar à mansão de seus pais, demorou a se adaptar aos privilégios e à etiqueta. 

 

— Aconteceu algo? Sua expressão está tão séria! — perguntou ela, enquanto pegava uma xícara de chá quente.

 

— Não, nada aconteceu.

 

— Seus lábios dizem uma coisa, mas seus olhos desejam me questionar. Sei que com a rapidez com que nosso casamento foi arranjado, ficaram muitas dúvidas que minha família não foi capaz de sanar.

 

Antunes respirou fundo. Parecia que ela conseguia ler seus pensamentos. Já que lhe dera a oportunidade de perguntar, deveria fazê-lo, em vez de prolongar sua curiosidade.

 

— Sua mãe, quando marcou uma reunião comigo, parecia ansiosa para casá-la. Tive a impressão de que temia algo.

 

Respirou fundo enquanto organizava as ideias. Vez por outra, sua mãe a encontrava ajudando um criado, o que a enfurecia. Assim descobriu que não poderia ajudar sem ser punida. Com a recorrência dessas ações, ficava meses sem sair do quarto. Apenas costurando. Não conseguia obedecê-la, o que soava como afronta. Embora nunca houvesse desejado desafiá-la. Queria apenas se encontrar naquele novo contexto.

 

— Certamente, ela temia que eu não conseguisse um bom casamento. Nem honrar a memória do meu pai.

 

Ele buscou discernir se a tristeza em seu rosto traduzia melancolia, saudade ou se tratava de um artifício para comover.

 

— Vocês eram próximos?

 

— Sim, ele me protegia — sorriu ela. — E eu não queria abandoná-lo. Após sua morte, senti que era um estorvo para minha mãe.

 

— Acredita que sua mãe usou o casamento como meio de afastá-la?

 

— De certa forma, sim.

 

Parece que algumas histórias se repetem.

 

— O senhor também já se sentiu assim?

 

— Não costumo revisitar o passado. Há coisas que é melhor não serem ditas nem revividas.

 

— Oh, não queria incomodá-lo. Suas palavras amargaram o momento afetivo que os envolviam.

 

O Comendador Antunes se levantou,desculpando-se antes de sair. Ayla teve a sensação devastadora de que dissera algo que o ofendera. Tinha sido tão cautelosa e vacilara em um instante em que não deveria.

 

***

Enfim, chegaram na mansão do casal! Ser esposa de um homem com tantas responsabilidades, não era fácil. Era preciso ter disposição para acompanhá-lo as visitas e reuniões periódicas. A única coisa que a incomodava eram os deveres que a levavam a jantares elegantes com sobrenomes de peso. Sentia-se deslocada. Preocupada o tempo inteiro se seu comportamento o envergonharia. As conversas das mulheres da alta sociedade soavam tão fúteis que não conseguia fingir interesse.

 

No dia seguinte, após chegarem, houve um movimento estranho. Os homens do comendador notaram que um carro se aproximava da propriedade. Estava coberto de terra vermelha. Alguns guardas tentaram contato a certa distância, mas o veículo rompeu a barreira e avançou sobre os homens que gesticulavam para ele parar. Desconhecendo as intenções dos ocupantes, notificaram Antunes. Parecia que não vinham em paz.

 

Rapidamente, Antunes chegou a cavalo.

 

— Fiquem todos atentos! Não sabemos os motivos pelos quais vieram.

 

— Senhor, o carro invadiu sua propriedade, feriu dois homens e foi em direção ao sul.

 

— Movimento estranho. Com qual objetivo invadiriam nossa propriedade?

 

— Senhor, o que houve? Por que nos chamou com tanta urgência? — perguntou, ofegante, o guarda da mansão.

 

— Eu não os chamei.

 

— Um senhor idoso nos relatou que assaltantes haviam invadido a propriedade. Ele garantiu que o senhor o enviou pedindo reforços.

 

— É uma armadilha! Quem ficou patrulhando a mansão?

 

— Todos viemos para cá.

 

— Foi uma distração para chegarem à mansão. Precisamos nos dividir. Ajam com cautela. Pode ser que tenham feito minha esposa de refém. Não sabemos a intenção dessa pessoa.

 

— Sim, senhor!

 

Dispararam conforme ordenado, cada um em uma direção, prontos para enfrentar o perigo que os aguardava.

 

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