Resenha – Ética e Cidadania

Cidadania: a fome das fomes

Há alguns dias, li na Publishnews sobre o lançamento do livro “Cidadania: a fome das fomes” (Mórula, 248 pág., R$ 150), que registra 30 anos da história da cidadania brasileira descobrindo a prioridade de acabar com a fome. Os jornalistas Plínio Fraga e Ana Redig contam como a Ação da Cidadania avançou. Essa história começa com Betinho, que soube tão bem aglutinar forças para a luta contra as injustiças sociais, criando a Ação da Cidadania. Milhares de pessoas entenderam: quem tem fome tem pressa!

Então lembrei de um livro na minha estante que tem tudo a ver, sobre o qual é bem oportuno falar: “Ética e Cidadania”. E, seguindo a linha de livros não ficcionais, vamos nos debruçar sobre ele.

Ética e Cidadania – o livro

Em 1994, o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, concedeu uma entrevista a quatro estudantes. Organizada pela jornalista Carla Rodrigues, a entrevista virou livro, cuja primeira edição foi lançada em 1994. Nele, Betinho fala do golpe de 64, da clandestinidade, do exílio e da anistia que o trouxe de volta. Betinho demonstra que havia no Brasil, na época, uma enorme fome não só de comida, mas, principalmente, de ética, que apenas havia começado a se manifestar. Assim, ele argumenta que democracia e miséria são incompatíveis e isso você vai entender durante a leitura.

O livro é um testemunho vivo do processo de mudança da sociedade brasileira, no qual o jovem tinha e ainda tem participação decisiva.

Este foi um volume totalmente dedicado às questões da ética na política e da cidadania.

Passados quase 30 anos, e mesmo após o falecimento do sociólogo em 1997, a sua entrevista se mantém atual, pela exigência cada vez maior de ética na sociedade, na vida pública e na política. Os veículos de comunicação estão aí para nos confirmar essa necessidade. Nos últimos anos, presenciamos enormes manifestações nas ruas. Por outro lado, deparamos diariamente com uma série de deturpações de fatos, capazes de destruir reputações e de manipular a opinião pública.

Alguns conceitos encontrados no livro Ética e Cidadania

Ética é diferente de moral e de moralismo. A ética é legitimada pela sua racionalidade; é atemporal; é uma lei universal, que todos condenam. Como enganar, mentir e trair, por exemplo. Todos os seres humanos entendem que é errado. A ética é mais sobre princípios e valores que orientam o comportamento humano. No entanto, a ética não é normativa como as leis e a sua ausência não é considerada crime.

A moral é uma ramificação da ética; seu conceito e seus valores variam de sociedade para sociedade e se transformam com o tempo.

Assim, a sociedade exige que a ética seja praticada na política, o que nem sempre acontece.

Antigamente, os principais elementos de formação do indivíduo eram a família, a escola e a igreja. Depois, veio a televisão (e depois a internet). E, segundo Betinho, isso se tornou um problema para a educação das crianças e para a transmissão dos valores éticos e morais.

Em resposta aos estudantes que o entrevistaram, ele falou do poder transformador da cultura e da importância das pessoas como agentes de atuação e transformação. E era essa consciência de agente transformador e de fraternidade social que ele queria despertar em cada indivíduo.

O livro também traz outras definições, como política, poder, domínio e poder democrático. Betinho propõe uma revolução e expõe as mazelas da sociedade de uma forma até pessimista e alarmista, para servir de alerta ao governo e aos cidadãos.

Finalizando

O último capítulo do livro de 72 páginas traz a compilação de vários artigos publicados, escritos por Betinho.

Portanto, vale à pena resgatar as palavras do sociólogo para refletirmos sobre o país que fomos, o país que temos e o país que queremos. Porque Betinho não foi apenas um discurso, foi ação: Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida, um movimento em favor dos pobres e excluídos.

A Ação da Cidadania se reinventou, inspirada nas luzes que Betinho deixou. Agora, pelas mãos de Daniel Souza e Kiko Afonso, respectivamente, filho de Betinho e de Carlos Afonso, fundadores do Ibase, uma das primeiras ONGs do Brasil.

Nessas três décadas muito mudou, mas o tamanho e a dor das fomes persistem. Por isso, lembremos que as mudanças começam sempre dentro de nós.

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