Personagem. Qual é o seu género?

Afinal, a palavra Personagem é um substantivo feminino, masculino ou de dois géneros?

Para chegar ao fundo desta questão, fiz uma vasta pesquisa entre dicionários e fontes da internet. São várias as opiniões difundidas sobre o assunto, deixo aqui algumas, a título de exemplo:

  • Para Napoleão Mendes de Almeida, o género fixo é o feminino, ainda que se refira a pessoa do sexo masculino. Ex. : «Otelo é uma personagem muito expressiva da criação de Shakespeare.»
  • De acordo com Cândido Jucá Filho, no português arcaico, «inúmeras palavras que tinham o sufixo -agem eram masculinas. Com o tempo, todas vieram dar em feminino, apesar do castelhano e do francês terem preferido o masculino. Personagem, porém, ficou indeciso, quer se trate de homem, quer de mulher… No Brasil, tem predominado porventura o masculino, mesmo tratando-se de mulher.»
  • Já Júlio Ribeiro arrola-o entre os substantivos que «são indiferentemente masculinos ou femininos.»
  • Enquanto para João Ribeiro, «hoje se diz arbitrariamente: o ou a personagem», acrescentando tal gramático, em outra passagem de sua obra, que tal vocábulo ainda hoje tem gênero incerto.»

Origem

O site da infopedia diz-nos o seguinte:

«A origem da palavra personagem determina o género feminino; no entanto, o uso tem revelado oscilação de género e o masculino tem vindo a ser aceite, por se aplicar tanto a figuras femininas como masculinas.»

Na Língua Portuguesa, as palavras terminadas em -agem são, na sua maioria, do género feminino, como, por exemplo, embalagem, garagem, viagem et cetera.

Já a palavra selvagem, pode usar-se no masculino ou feminino, conforme se aplicado ao homem ou à mulher.

De acordo com José Neves Henriques e Manuel Monteiro, o uso da palavra personagem no masculino é um galicismo — le/un personage — pois as palavras terminadas em -age, no francês, são na sua maioria do género masculino.

José Neves Henriques e Rodrigo de Sá Nogueira, acrescentam que, o uso do masculino pode ter também nascido da vontade de haver uma concordância.

A minha opinião

Pessoalmente, concordo com a visão de Napoleão Mendes de Almeida.

No seu Dicionário de Questões Vernáculas (Livraria Ciência e Tecnologia Editora, São Paulo, Brasil), Napoleão Mendes de Almeida, opõe-se ao emprego de «o personagem», no masculino:

«É um francesismo. Acaso, referindo-se a Pedro, pode o leitor dizer “esse pessoa”? Se Pedro é “uma pessoa”, ele é também “uma personagem”. Personagem não é comum de dois; tem gênero fixo, feminino: essa personagem, uma personagem, as personagens. Personagem muda (e não mudo) é expressão técnica, consagrada, para indicar a personagem que entra nas peças teatrais só para figurar.»

Voltemos então à pergunta inicial: Afinal a palavra Personagem é um substantivo feminino, masculino ou de dois géneros?

Acredito que, segundo a sua origem e segundo a lógica demonstrada por Napoleão Mendes de Almeida, seja um substantivo feminino.

Mas a minha verdade, não é absoluta, é apenas a minha.

Devemos permanecer fiéis à origem da nossa língua ou devemos acompanhar a evolução dos seus falantes? A decisão cabe a cada um de nós.

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