O prazer do Texto

O prazer do texto – O livro

“Se leio com prazer esta frase, esta história ou esta palavra, é porque foram escritas no prazer. Porém, o contrário não é verdadeiro.”

O conceito acima é uma das muitas reflexões contidas no livro “O prazer do texto”, de Roland Barthes, de 1973, publicado pela Editora Perspectiva em 2002.

O autor filosofou sobre a literatura e foi bem a fundo em suas divagações, trazendo à tona as profundidades vistas e não enxergadas, emborra algumas delas tornem um desafio a sua total compreensão. Assim, destaco algumas das importantes falas contidas no livro, que merece ser mais do que lido, estudado em suas linhas e entrelinhas. São falas colocadas de tal forma, que soam como estalos, envoltas em lógica, e que arrancam um involuntário “É mesmo!”.

Segundo Roland Barthes, o texto deve ser escrito para alguém. Que seja um determinado grupo ou pessoas específicas. Afinal, o texto solto, sem direção, dificilmente encontra o seu leitor e não toca quem o lê.

O texto tem que dar provas de que deseja o leitor.

A escrita tem que ser provocativa. A linguagem, desconstruída, remontada, redescoberta. Comparada ao erotismo, ambos devem seduzir e causar prazer.

O autor lembra que as palavras se humanizam: elas se apresentam, representam, rompem regras, geram ambiguidades. Bem colocadas, fazem a revelação progressiva, provocando excitação para conhecer o final da história. As distâncias entre as palavras são como rasgões que se abrem e resultam nas duas margens onde estão o escritor(sentimento e intenção) e o leitor(afetação e interpretação).

A partir de então, Barthes discorre boa parte do livro falando sobre as diferenças e proximidades entre o texto de fruição e o texto de prazer.

O texto seduz pela sua fruição. Arrebata pelo desfolhar dos significados de cada palavra e de cada pontuação ou pela ausência dela. Por isso, os textos modernos devem ser lidos sem pressa, lentamente.

O texto de prazer não é forçosamente o texto que relata prazeres, embora provoque contentação e euforia. Ele vem da cultura e não rompe com ela. É uma leitura confortável, um ato ligeiro que possuiu uma pequena fruição.

O texto de fruição desconforta, faz entrar em crise a sua relação com a linguagem, provoca o leitor.

Ele é o extremo da perversidade, não tem uma finalidade imaginável; é intransitivo. A fruição do texto é precoce, arrebatadora; uma subversão sutil.

Segundo o dicionário Houaiss, um dos significados de fruição pode ser interpretado como o ato de aproveitar satisfatoriamente a oportunidade da linguagem escrita, para construir textos literários que surpreendem, explodem.

O autor resume a questão: o texto de prazer é dizível e o de fruição não o é.

O escritor e o leitor de prazer aceitam a letra, amam a linguagem.

O escritor e o leitor de fruição rompem com padrões, mostram e aceitam o texto impossível; são capturados pela perturbação; pelo que é sentido de forte, violento ou simplesmente cru. A fruição aparece com o novo absoluto, pois só o novo abala a consciência.

É como se o texto de prazer fosse lido com a cabeça e o de fruição com o coração: a razão versus a sensação.

Entretanto, o prazer não é um elemento do texto, um recurso ingênuo; pode, às vezes, ser ilógico, revolucionário e atópico também. Mas o certo é que um texto não pode conter excessos. E assim, os textos coexistem no mercado literário: os sublimes e os comerciais.

O homem está preso à linguagem da sua realidade. Por isso, os falares e as diversas linguagens lutam entre si, almejando se impor, gerando um imenso conflito. Mas como um texto, que é linguagem, pode estar fora da linguagem e exteriorizar os falares do mundo? O próprio autor pergunta e responde: liquidando a metalinguagem e investindo contra as estruturas canônicas da própria língua. Resumindo: conhecer regras e padrões para os romper.

O prazer de se ler um texto independe de ideologia. Porém, se pararmos para pensar, cada indivíduo não lê um texto em sua totalidade, em toda a sua amplitude e possibilidades; ele lê conforme o seu ponto de vista, o seu ângulo de visão, a sua própria ideologia. Poucos são os escritores que não passam a sua ideologia e a sua libido para o texto.

De um lado, a repetição da linguagem da cultura de massa, não necessariamente desprovida de prazer.

Do outro, o novo arrebatador que pode até mesmo destruir o discurso. Podemos encarar como regra o abuso de tal repetição, e a fruição a exceção da regra. Pois, repetir em excesso é entrar na perda do significado.

A palavra está ligada à representação de algo e à sensação que esse algo provoca. Mas não à simples nomeação, e sim à construção de algo a ser entendido, sentido e imaginado como real. Segundo Barthes, nomear é limitar. Por isso ele diz que o romance deve mesclar as duas realidades: a que ele demonstra, mesmo sem a ver, e a que ele vê e não diz. A literatura é em si uma dialética: o enternecimento e a perversidade; o prazer e a fruição.

Para Barthes, o medo não é literário porque ele limita e não deixa transgredir regras e padrões.

Porém, o escritor é um pensador de frases, e o prazer da frase é cultural. Criar frases é feito jogar xadrez: requer planejamento, elaboração e intenção; construir com inteligência, ironia, delicadeza, euforia, domínio, segurança.

O prazer do texto é a identificação dos valores e significados, mas ele não é seguro. Se considerarmos que em cada fase da vida temos uma visão diferenciada do mesmo texto, nada nos garante que ele nos agradará uma segunda vez.

Se um dos significados da palavra “texto”(do verbo latino “texo”= tecer) quer dizer tecido, Roland Barthes diz que o texto é o entrelaçamento de palavras e ideias, que vão compondo a textura e as camadas — onde se escondem a verdade e o sentido — tal qual uma aranha tece a sua teia.

Sobre o autor

Roland Barthes (12/11/1915 – 26/03/1980) foi um importante escritor e filósofo francês. Também foi sociólogo, crítico literário, semiólogo e professor.

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