O livro
“Madame Kardec – a história que o tempo quase apagou”, de Adriano Calsone, foi publicado pela Vivaluz Editora – SP, em 2016.
A biografia de Amélie-Gabrielle Boudet, a viúva de Kardec, de 282 páginas, não foi apenas resultado de árdua pesquisa do autor. Afinal, sem filhos, após a morte de Amélie, muitos documentos, fotos e correspondências foram descartados inadvertidamente ou se perderam. O autor contou com o auxílio do espírito Barthe Fropo, amiga íntima de Amélie, que se manifestou pela médium Sandra Carneiro. Além disso, Calsone foi intuído infinitas vezes pelo espírito da própria biografada.
Amélie, exemplo de sensibilidade e caridade, trabalhou ao lado do marido durante a produção da codificação. Enquanto esteve viva, foi guardiã das obras e dos valores espíritas.
Para contextualizar e facilitar a compreensão dos fatos narrados, o livro é dividido em três partes:
A primeira parte aborda desde as origens dos ascendentes de Amélie, o casamento com Hippolyte Léon Denizard Rivail (Allan Kardec), e vai até pouco antes do desencarne deste, em 1869.
A segunda parte abrange o falecimento de Kardec até às vésperas do desencarne da própria Amélie (1869 – 1883).
Na terceira parte vemos a disputa pelo espólio dos Kardec e os rumos tomados pelo Espiritismo.
Amélie-Gabrielle Boudet
Após o desencarne de Kardec, Amélie tornou-se a figura mais benquista e respeitada, não apenas no meio espírita. Viveu como uma guardiã dos verdadeiros valores espíritas. Porém, suas opiniões protecionistas nem sempre se fizeram ouvir pelos responsáveis em gerir as publicações e divulgação da doutrina. Apesar de idosa e mulher, manteve-se firme, o quanto pôde.
Calsone nos mostra quanto Amélie era culta e talentosa para as artes, a ponto de colocar-se como protetora das artes mediúnicas. Foi pedagoga, escritora, poetisa, instrutora de artes, artista plástica, desenhista, aquarelista, gravurista, miniaturista e pintora. Afinal, tanto ela como Kardec beberam da mesma fonte: os pensamentos e a pedagogia de Pestalozzi.
O cisma no Espiritismo
As pesquisas de Calsone apontam também os causadores do descrédito do Espiritismo na França.
Assim, entendemos que são as fraquezas humanas as maiores responsáveis por discórdias, pois são capazes de cegar e de deturpar valores.
Se o Cristianismo dos tempos de Jesus foi readaptado e interpretado, conforme os interesses da Igreja e das sociedades; se os cristãos vêm se dividindo e subdividindo em tantas denominações, seitas e crenças, seria ingenuidade esperar que o Espiritismo, enquanto tentativa de resgate do Cristianismo Primitivo, não sofresse críticas, rachaduras e tentativas de reformulação. O Roustainguismo foi um desses elementos que provocaram cismas entre os espíritas, mas não foi o único.
Opinião
A narrativa é envolvente porque vai respondendo, a cada capítulo, muitos dos nossos questionamentos. Como exemplo, os fatos que mancharam e deturparam a doutrina, mostrando o porquê da terra-mãe do Espiritismo, ter dado tão pouco valor à nova revelação. Por isso, atualmente, o Espiritismo na França se restringe a pequenos grupos não contabilizados e seguindo diferentes vertentes.
“Madame Kardec” é uma obra de caráter histórico, sem dúvida. Porém, a forma narrativa consegue transmitir a essência dos personagens principais, tornando cada degrau por eles percorrido, episódios carregados de drama e obstáculos. A narrativa retrata um verdadeiro exemplo de dedicação e superação.
O autor
Adriano Calsone nasceu em 15/12/1976 em São Caetano do Sul–SP. Tornou-se médium, estudioso e pesquisador espírita, com forte conexão com a pintura mediúnica. Possui várias obras editadas.
O livro “Madame Kardec” está disponível na Amazon.








