Resenha – Gritos – um livro que grita

Gritos – a escrita

Ao abrir as páginas de “Gritos”, mais uma vez tive a grata satisfação de ler de novo um escritor contemporâneo com “lápis afiado”.

Como carioca experiente, Rodrigo Netto faz questão de mostrar a dor, de maneira singular, quer na agonia de um personagem enterrado vivo, na injustiça de um linchamento público ou até mesmo nas tragédias inevitáveis de um ativista. Ele conduz o leitor pelo lado sombrio da vida e da morte; pelas tragédias anunciadas; pelos gritos sufocados, calados pela dor excessiva ou pela morte terrível.

Conforme Marcelino Freire diz, as frases não podem ser óbvias; o leitor não deve saber qual a próxima frase do escritor.

Nesse sentido, parece que Rodrigo Netto ouviu o grande professor. Pois, a sua escrita é cadenciada pela expectativa do que estar por vir nas linhas seguintes; que vai direcionando o leitor para um caminho e, surpreendentemente, muda de direção. Gostei!

O livro

“Gritos” foi publicado em 2023, pela Editora Autografia.

Com frases curtas e impactantes, as palavras não sobram, elas gritam.

São 12 contos que ferem. Afinal, expõem a crueldade que o ser humano é capaz de cometer.

Assim como o livro da Paula Bellot, o qual comentei na semana passada, Rodrigo também se vale do lado violento do Rio de Janeiro como cenário de seus contos. Aliás, esses dois autores cariocas possuem também bastante semelhanças no estilo narrativo.

Outros destaques

A capa do livro tem tudo a ver. Assim como o quadro O Grito, de Edvard Munch, simboliza a solidão, a melancolia, a ansiedade e o medo, Rodrigo Netto pintou o retrato obscuro da natureza humana em palavras.

Expondo as desgraças da vida — que, na verdade, não são exclusividades do carioca — com temáticas fortes como: prostituição, drogas, assalto, chantagem, pesadelo, mentira, assassinato e sequestro, o autor dá voz aos personagens, porém, sufoca seus gritos. Dessa forma, consegue atingir os leitores com o efeito de um aperto na garganta.

Destaco o conto “Péssimo fisionomista”, o mais light, digamos assim, de todo o livro. O texto mostra o encontro de dois homens onde, aparentemente, apenas o primeiro lembra-se do outro. Para não demonstrar uma deficiência de memória, o último finge que o conhece. Assim, o diálogo se desenrola, porém, o equívoco está no primeiro personagem. Aviso logo que pequeno spoiler não dispensa a leitura do texto, que serve como alívio cômico para o leitor.

O autor

Rodrigo Netto é jornalista e pós-graduado em Literatura Brasileira pela UERJ. Publicou em 2019 o livro “Contagem regressiva”. Estreou como escritor na Bienal do Livro do RJ em 2019, com participação na antologia “Psicopatas”. Suas principais referências literárias são Machado de Assis e Rubem Fonseca.

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Para conhecer mais sobre o autor, acesse o seu perfil no Instagram: @rod.netto.escritor