É possível melhorar um texto literário?
O livro
É possível melhorar um texto literário? Lola Sabarich e Felipe Dintel dizem que sim em seu livro “Como melhorar um texto literário – Um manual prático para dominar as técnicas básicas da narração”, Gutenberg Editora, 2014, 96 páginas.
A princípio, o livro tem como público-alvo o escritor iniciante. Por isso, os autores são bastante didáticos e práticos, como se ministrassem uma oficina para escritores. A fim de tornar a obra é detalhista, os autores trazem exercícios, exemplos e bastante conteúdo.
Então, trago aqui apenas uma síntese de alguns pontos abordados na obra, mas que não substitui de forma alguma a leitura do livro, o qual super recomendo.
Mostrar sim. Dizer, nem sempre
Primeiramente, uma das técnicas mais eficazes é o “show, don’t tell”. Mas como o escritor faz isso? Um bom modo é evitar palavras como: raiva, honestidade, ódio, dor, tristeza, ciúme; e expressões como: lembrava-se com emoção, sentia calor, era feliz, estava angustiada, vivia ansioso, e muitas outras que apenas dizem, não mostram. O escritor mostra mediante descrições e ações que levam o leitor a deduzir o que o personagem está sentindo.
Algumas dicas dos autores
. A fim de evitar o óbvio, policie-se para não repetir ideias e informações;
. Lembre que o narrador fora da história não pode emitir opiniões ou juízo de valor;
. Evite o “comum”. Pois, o diferencial e os detalhes incomuns caracterizam os personagens e os lugares;
. Por último, crie cenas para o que for significativo, reduzindo grandes períodos e evitando ações desnecessárias, alternando resumos e cenas.
O que é a cena?
A cena é formada por:
– Moldura – conjunto de elementos fixos do cenário; sem ela o leitor fica deslocado;
– Atmosfera – elementos variáveis do cenário: temperatura, sons, aromas, luminosidade. É a chamada imersão sensorial, e, sem ela, a cena fica inconsistente; e
– Ação – movimentos, diálogos, pensamentos etc. Pois, sem ação não existe cena, é apenas mera descrição.
Resumindo, é preciso definir o que a cena quer dizer e, então, trabalhar os elementos em conjunto para reforçar essa ideia. Os três elementos acima devem interagir e se entrelaçar.
A informação no relato
Não coloque informações irrelevantes e desnecessárias para não criar falsas expectativas no leitor e muito menos frases que soem artificiais.
Dessa forma, o escritor pode introduzir as informações como perguntas, por exemplo, durante os diálogos. “É verdade que ….. ?”
E não esqueça que, ao escrever monólogo interior, este não pode ser todo certinho feito uma redação.
Veja que é imprescindível prender o leitor do início ao fim. Para isso, o escritor deve criar expectativas logo nas primeiras páginas ou linhas. O que quer dizer com a história, o que o leitor irá encontrar, qual o gênero da obra e quem será o personagem principal. Por isso, tudo na história tem um motivo para estar lá. São os chamados nós ocultos da trama. Afinal, nada pode ser jogado aleatoriamente, sem ligação, e nada deve ficar sem resposta. O escritor encadeia as ideias para fazer a ligação entre as cenas e planta sementes de informações; ele vai tecendo tramas e subtramas para amarrar tudo até o final do livro.
O tempo na narrativa
Um mesmo lapso de tempo pode parecer eterno ou ligeiro, a depender da dor ou do prazer. Assim, o escritor pode manejar o tempo de várias formas.
A elipse é um salto temporal que serve para acelerar o ritmo narrativo. Por exemplo: “Foi encontrá-lo três dias depois” (elipse definida). “Certa manhã observou-se que…” (elipse indefinida).
Com a digressão reflexiva, que enfatiza as reflexões do narrador ou de algum personagem, obtém-se o efeito de lentidão.
Veja outras formas de tornar o texto mais lento:
. Introduzindo pausas com descrições;
. Usando frases mais longas;
. Adotando verbos no pretérito imperfeito;
. Valendo-se de analogias e comparações; e
. Acrescentando adjetivos e advérbios.
Para acelerar o ritmo do texto, o escritor pode usar:
. Frases curtas e simples;
. Verbos no presente ou no pretérito perfeito;
. Mais verbos de ação;
. Palavras que deem ideia de velocidade e agitação; e
. O pensamento do personagem de maneira direta.
Finalizando
Sobre personagens, eles podem ser descritos de forma dita e/ou mostrada. Os personagens devem atuar e mostrar quem são através das cenas, com ações e diálogos. Dessa forma, os personagens demonstram suas opiniões e caráter.
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