Rosângela Martins

14 Figuras de linguagem que deixarão seu texto excepcional

1. Introdução

“Também as palavras são uma espécie de conchas, às quais temos de encostar o ouvido com humilde atenção, se quisermos apreender a voz que dentro delas ressoa”. (A vida do Sinal, trad. Aníbal Pinto de Castro. Lisboa, Fund. Calouste Gulbenkian, 1965)

Iniciamos com essa citação para demonstrar que as palavras escondem muito mais do que mostram.

Segundo Moritz Regula, “A língua, expressão consciente de impressões exteriores e interiores, está sujeita a uma perpétua transformação. As palavras mudam de significado ou porque as coisas se modificam, ou porque a ‘constelação psíquica’, sob cuja influência nasce o sentido do objeto, se altera graças a causas diversas.” Ou seja, a significação das palavras está interligada ao mundo das ideias e dos sentimentos.

Então, o escritor deve saber usar as palavras e explorar as formas possíveis de utilizá-las, com intencionalidade. Da mesma maneira, o leitor deve estar aberto e atento às possíveis interpretações.

Portanto, as figuras de linguagem são recursos estilísticos fundamentais para enriquecer uma obra literária. Elas ajudam a criar imagens, provocar emoções e dar maior expressividade ao texto. Porém, é preciso saber a hora certa de usá-las. Por isso, neste artigo, exploraremos apenas as 14 principais figuras de linguagem que deixarão seu texto excepcional, transformando uma escrita comum em algo memorável.

2. O que são figuras de linguagem?

Figuras de linguagem são construções linguísticas que fogem do uso comum das palavras para criar efeitos sensoriais e expressivos no texto. Elas são amplamente utilizadas na literatura, na poesia e até no discurso cotidiano.

Assim, são divididas em figuras de palavras, de pensamentos, figuras de construção ou sintaxe e figuras sonoras.

3. As 18 Figuras de linguagem que deixarão seu texto excepcional

3.1 Metáfora

A metáfora estabelece uma relação de semelhança entre dois elementos sem o uso de conectivos comparativos.

Logo, é a mais conhecida das figuras de linguagem, bastante usada por poetas, literatos e até na linguagem coloquial. Aristóteles bem a definiu: “consiste em transportar para uma coisa o nome de outra coisa”, uma espécie de comparação direta, sem a locução comparativa. Assim, a metáfora pode substituir adjetivos.

Vejamos alguns exemplos:

  • Fernanda Torres é a estrela do cinema nacional, na atualidade.
  • Os braços do sofá estão empoeirados.
  • Os cabelos de neve da anciã exigem respeito.
  • O toque da seda da sua pele causava-me arrepios.
  • Ela fincou os pés de chumbo na entrada e não o deixou passar.

Dessa maneira, transferimos os sentidos possíveis de um objeto para outro.

Observação: Diferente da metáfora, a comparação explicita essa relação de semelhança por meio de palavras como: “tal qual”, “como” e “parece”. Porém, os textos literários ganham muito mais força e potência quando você afirma que algo é, em vez de dizer que “é como” ou que “parece ser”.

Entre as frases: “A noite é como uma criança” e “A noite é uma criança”, qual das duas causa melhor efeito?

3.2 Metonímia

Baseia-se na relação de proximidade ou vizinhança de sentidos que se transferem. Ou seja, a metonímia ocorre quando uma palavra é usada para designar alguma coisa com a qual mantém uma relação de proximidade ou posse. Pode ser, tomando-se:

a) a parte pelo todo: “Os faróis se aproximam”. (é o veículo que se aproxima)

b) a matéria pelo produto: “Ele chegou na festa, ornado de pratas e ouros. (joias)

c) o autor pela obra: “Quem não gosta de ler Machado de Assis?” (as obras de Machado de Assis)

d) a causa pelo efeito ou vice-versa: “Vivo do suor do meu rosto.” (trabalho)

e) o recipiente pelo conteúdo: “Você quer água? Já tomei um copo.”

f) o produto pela sua origem ou pela marca: “Essa panela só fica brilhando se lavar com bombril.” (esponja de aço)

g) o abstrato pelo concreto: “É preciso praticar a caridade.” (atos de caridade)

3.3 Sinestesia

A sinestesia mistura sensações de diferentes sentidos. O uso da sinestesia ajuda a conferir tridimensionalidade aos textos, atribuindo sensações de tato, de odor, de paladar e de sons, além do visual.

  • Exemplos: “O cheiro doce da liberdade.” “Uma amarga mentira”

3.4 Antítese

A antítese apresenta palavras ou ideias opostas para criar contraste.

  • Exemplo: “O amor e o ódio caminham juntos.” “Não sou alegre nem triste, sou poeta”

3.5 Paradoxo

O paradoxo expressa ideias aparentemente contraditórias ou absurdas, mas que fazem sentido em determinado contexto.

  • Exemplos: “O silêncio é ensurdecedor.”

3.6 Eufemismo

O eufemismo suaviza expressões duras ou desagradáveis. Porém, cuidado com as expressões muito usadas, pois, a valorização de um texto também está em não cair no uso comum.

  • Exemplo: “Ele foi morar com os anjos” (em vez de “Ele morreu”).

3.7 Hipérbole

A hipérbole exagera uma ideia para dar ênfase.

  • Exemplo: “Estou morrendo de fome.”

3.8 Ironia

A ironia expressa o contrário do que realmente se quer dizer.

  • Exemplo: “Que belo dia para uma tempestade!”

3.9 Prosopopeia ou Personificação

Atribui características humanas a seres inanimados.

  • Exemplo: “O vento sussurrava em meus ouvidos.”

3.10 Gradação

É a colocação de ideias na ordem crescente(clímax) ou na ordem decrescente (anticlímax).

  • Exemplos: “Na manifestação dos grevistas, começaram a chegar dez, cem, mil pessoas.” (crescente) “Começou perdendo o carro, a casa, a família e, por fim, a saúde.”(decrescente)

3.11 Elipse e Zeugma

A elipse omite uma palavra que pode ser subentendida pelo contexto. O zeugma é um tipo de elipse em que se omite uma palavra já mencionada anteriormente.

  • Exemplos: “Na sala, apenas dois alunos.” (elipse) “Ela gosta de música; eu, de cinema.” (zeugma)

3.12 Polissíndeto e Assíndeto

O polissíndeto repete conjunções para dar ênfase e até acelerar o ritmo do texto. O assíndeto omite conjunções para dar dinamismo ao texto ou até para imprimir lentidão.

  • Exemplos: “E ria, e falava, e brincava e não parava de pular.” (polissíndeto). “Vim, vi, venci.” (assíndeto)

3.13 Inversão ou Hipérbato

Altera a ordem direta das palavras na frase.

  • Exemplo: “Dos sonhos era feita sua vida.”

3.14 Anacoluto

É a quebra da estruturação lógica da oração. É quando o pensamento vem tão rápido que as palavras não acompanham. A pessoa se precipita em dizer algo e, no meio do caminho, retoma o rumo para concluir o pensamento. Ou seja, são pedaços de frases que, a princípio, parecem não ter sentido.

  • Exemplos: “Os três reis magos, conta a lenda que um deles era negro.” “A pessoa que não sabe viver em sociedade, contra ela se põe a lei.”

4. Exemplos famosos na literatura

  • “Tudo vale a pena se a alma não é pequena.” (Fernando Pessoa – Antítese)
  • “Amor é fogo que arde sem se ver.” (Camões – Paradoxo)
  • “O tempo é um rio que arrasta tudo, mas eu sou o rio.” (Jorge Luis Borges – Metáfora)

5. Como utilizar figuras de linguagem de forma eficaz

  • Use com moderação para não tornar o texto exagerado.
  • Escolha figuras que combinem com o tom e o propósito da obra.
  • Leia grandes escritores para aprender como empregá-las com maestria.
  • Por fim, seja criativo para não cair no comum.

6. Conclusão

Finalizando, o uso adequado das figuras de linguagem pode elevar a qualidade de qualquer obra literária. Esses recursos não apenas tornam o texto mais rico e expressivo, mas também cativam o leitor e criam experiências inesquecíveis na leitura.

Assim, espero ter ajudado! E se quiser melhorar a sua escrita, não deixe de acompanhar os nossos artigos aqui do Epicentro. Até breve!

7. Bibliografia

PROENÇA FILHO, Domício. Estilística aplicada. São Paulo: Ática, 2011.

CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. Rio de Janeiro: Lexikon, 2008.

KOCH, Ingedore Villaça. A coesão textual. São Paulo: Contexto, 2004.

Leia também:

Os 11 mandamentos de uma redação nota 10

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