Introdução
Nos romances policiais, o mistério está no cerne da narrativa. Uma maneira engenhosa de intensificar a intriga é o uso de mensagens codificadas. Cifras, anagramas e mensagens ocultas são enigmas que desafiam tanto os personagens quanto os leitores. Dessa forma, o uso de códigos adiciona camadas de complexidade, de envolvimento e de satisfação quando decifrados. Por isso, ao longo desse artigo, vamos fornecer muito mais do que 13 curiosidades sobre o uso de códigos em romances policiais.
1. Os efeitos dos Códigos nos Romances Policiais sobre os leitores
Na realidade, o mundo do crime vale-se constantemente do uso de códigos. Porém, na ficção, eles cumprem vários papéis em um romance policial: podem ser pistas que conduzem à solução do crime, mensagens deixadas por vítimas ou criminosos, ou mesmo armadilhas criadas pelo assassino para confundir os investigadores. Por isso, o uso adequado desse recurso torna a trama mais envolvente e instiga o leitor a participar ainda mais da investigação, capturando-o de vez para dentro da trama.
2. Sobre o uso de Cifras simples
Um dos métodos mais antigos e acessíveis é a cifra simples, apenas com letras do alfabeto. Um dos livros que utiliza esse recurso é A droga da obediência, de Pedro Bandeira. Na história, o grupo de adolescentes Os Karas combina seus encontros e outras ações usando a cifra simples. Eles determinam a chave com duas palavras com o mesmo número de letras. Assim, as letras da primeira palavra substituem as da segunda. Dessa forma, o texto em código fica um emaranhado de letras, aparentemente, sem sentido. Mas, com as duas palavras-chave, consegue-se decodificar facilmente a mensagem, apenas fazendo a substituição das letras correspondentes. Então as letras que não tiverem substitutas, permanecem. Com esse método, podemos escrever mensagens a partir de palavras-chave diferentes.
Por exemplo: A chave é “estado-conter”. Então, o e=c; s=o; t=n; a=t; d=e; o=r. Se a mensagem for: Ocu nrmc c Rcntnt, decodificada, fica: Seu nome é Renata
3. Sobre Anagramas e Palavras Ocultas
A princípio, para ilustrar, lembremos da talentosa Agatha Christie. Como ela só foi para a escola aos 13 anos, antes disso seus professores foram os livros da biblioteca de seus pais. Esses livros também continham vários jogos com palavras e números: acrósticos, charadas com letras e números, inversões, quebra-cabeças, enigmas com números romanos, cronogramas, criptografias e similares. Esses passatempos eram divertidos e treinavam a mente. Além do interesse em ordem, hierarquia e proporção, Agatha tomou gosto por manipular letras e números, interpretar códigos, e brincar com arranjos e sequências para esconder ou revelar outros significados. Por isso, adquiriu uma vasta gama de conhecimentos gerais e uma mente afiada para criar mistérios. Aprendeu a procurar informações sem ajuda e navegou por todo tipo de assunto.
Publicado em 1941, N ou M?, por exemplo, inicialmente seria “T & T”, como mostram os cadernos de Agatha, recheados de formas de códigos, de palavras compostas por letras deslocadas, pontos, traços e números substituindo frases. Até que decidiu usar uma canção infantil, Goosey Goosey Gander, como dispositivo central para a trama.
Misturar ou reorganizar letras para esconder mensagens era uma das especialidades de Agatha Christie.
4. Códigos insolúveis – A realidade inspirando a ficção
O Assassino do Zodíaco, por exemplo, foi um caso verídico de um assassino em série estadunidense que atuou no Norte da Califórnia durante 10 meses desde o final da década de 1960. O Zodíaco colocou seu nome em uma série de cartas ameaçadoras que enviou à imprensa até 1974, onde incluiu quatro criptogramas, dos quais três ainda não foram decifrados. Por ser um dos casos de assassinatos não resolvidos mais famosos da história americana, tornou-se um elemento fixo na cultura popular, inspirando detetives amadores a tentarem resolver o caso e peças de entretenimento como filmes, televisão, romances e videogames.
5. A cifra de César
Uma forma relativamente básica de cifra de substituição é a cifra de César, nomeado pelas suas origens romanas. A cifra de César envolve a escrita de dois alfabetos, um acima do outro. Então é só deslocar por um ou mais caracteres para a direita ou esquerda e a chave para desvendar o código é justamente essa. Por exemplo, se avançarmos no alfabeto uma letra à direita para escrever a palavra “cachorro”, a palavra escrita em código ficaria “dbdipssp“.
6. Códigos de Sinais e Numéricos
O sistema de códigos por sinais mais conhecido é o Código Morse. O Código Morse é um sistema de comunicação desenvolvido por Samuel Morse, criador do telégrafo elétrico, no século XIX. Esse sistema é formado por um conjunto de pontos (•), ou dit, e traços (─), ou dah, que representam as letras do alfabeto e os números.

Boa parte das organizações criminosas utiliza códigos e cifras para esconder nomes, números de telefone, endereços, pesos e quantidades de dinheiro. Cifras como números correspondentes às letras do alfabeto são muito fáceis de serem descobertas. Mas, quando você determina uma mensagem chave, aí a resolução fica mais complicada. Por exemplo, podemos ter a chave “12345678 estou ali”, onde cada número corresponderá às letras das duas palavras. Dessa forma, a mensagem codificada pode ser escrita com o 1=e, 2=s, 3=t e assim sucessivamente.
Palavras-chave em línguas estrangeiras também são usadas frequentemente.
Ademais, usa-se sequências numéricas para representar, além de letras, palavras ou conceitos, com códigos escondidos até em obras de artes, como encontramos em O Código Da Vinci, de Dan Brown.
Na história, um assassinato no Museu do Louvre traz à tona uma sinistra conspiração para revelar um segredo que foi protegido por uma sociedade secreta desde os tempos de Jesus Cristo. A vítima é o curador do museu, Jacques Saunière, um dos líderes dessa fraternidade, o Priorado de Sião, que já teve como membros Leonardo da Vinci, Victor Hugo e Isaac Newton. Pouco antes de morrer, ele consegue deixar uma mensagem cifrada na cena do crime. Apenas sua neta, a criptógrafa Sophie Neveu, e Robert Langdon, um famoso simbologista de Harvard, podem desvendá-la.
7. Cifras Clássicas, Históricas e de civilizações antigas.
Usar criptografias vikings, gregas e romanas, por exemplo, adiciona autenticidade histórica a uma trama ficcional.
O Código de Atlântida, de Charles Brokaw, fala de uma relíquia de 20.000 anos, encontrada com inscrições aparentemente na antiga linguagem de Atlântida. O professor de linguística de Harvard, Thomas Lourds, é o único homem capaz de decifrar o seu significado, mas, ele não é o único interessado. Um ramo ultrassecreto da Igreja Católica entra na disputa para desvendar os segredos da cidade perdida. As ruínas de Atlântida prometem fama, fortuna e poder e, ao mesmo tempo, segredos que podem mudar as crenças das origens da humanidade.
8. Mensagens em parábolas, com metáforas ou em sentido figurado
Embora não seja um romance policial, é óbvio, a Bíblia é o maior exemplo de mensagens ocultas em suas páginas. São textos carregados de lições e ensinamentos, principalmente no Novo Testamento, com as parábolas de Jesus e com o último livro da Bíblia, o Apocalipse, também conhecido como Revelação. João escreveu o Apocalipse enquanto era prisioneiro na Ilha de Patmos, aproximadamente entre 85 e 95 d.C. , num contexto sombrio, repleto de perseguições pelo poderio de Roma para exterminar os cristão.
O livro contém uma série de visões e profecias sobre o fim dos tempos e o juízo final e escreve mensagens personalizadas para as sete igrejas na Ásia, que incluem elogios, admoestações e promessas aos membros fiéis em cada ramo. João vê Deus entronizado no Reino Celestial, o cordeiro de Deus e um livro selado com sete selos. Um a um os selos são abertos. Surgem, então os sete anjos, os quais recebem sete trombetas. E muitas outras visões, carregadas de significados ocultos.
Permitindo várias interpretações, o Apocalipse vem inspirando uma infinidade de autores como Adam Blake, por exemplo, com “O Código do Apocalipse”, onde a ex-detetive Heather Kennedy vai ter que correr para quebrar o código, pois, os sinais chegaram e o final dos tempos se aproxima.
9. Mensagens Invisíveis e o mundo do ocultismo
Tintas invisíveis(como a escrita com sumo de limão que se torna visível sobre o calor do fogo), palavras escondidas em diálogos ou livros dentro de livros parece até coisa de espião. O que nos remete ao livro O Código de James Bond, de Philip Gardiner. Nele, vemos o relato de como a associação de Fleming com o mundo do ocultismo o levou a criar uma série magistral de pistas, chaves e códigos dentro dos seus livros. Philip Gardiner desvenda o segredo de James Bond a partir dos romances e filmes utilizados para criar essa aura de mistério.
Por falar em mistério, O Código Perdido, de Kevin Emerson, traz uma distopia intrigante. Owen Parker precisa desvendar os mistérios que cercam sua descendência para evitar a aniquilação total da raça humana. Ele contará com a ajuda de Lily, uma garota tão encantadora quanto misteriosa, para entender o que está por trás de seu código genético e salvar o planeta Terra, devastado por mudanças climáticas. Para isso, ele precisará escapar do interesse da Corporação Éden nos seus conhecimentos ancestrais e fugir para o deserto pós-apocalíptico fora do domo do Éden. A trama dos 3 volumes também é recheada de mitologia e busca desvendar o segredo do código perdido.
10. Códigos para crianças e adolescentes decifrarem
Uma excelente forma de estimular a leitura das crianças e o seu raciocínio lógico está presente em livros de mistérios, capazes de envolver e conquistar leitores.
Além dos livros de Pedro Bandeira que já falamos neste e em outros artigos aqui no Epicentro, temos O Clube dos Caçadores de Códigos, de Penny Warner, uma série para crianças e adolescentes. Cody, Quinn, Luke e M. E. adoram brincar com códigos. Na verdade, eles gostam tanto de códigos, que têm seu próprio clube particular, com um esconderijo secreto e senhas que mudam a cada dia. Quando Cody recebe um e-mail misterioso, que faz alusão a um tesouro na ilha de Alcatraz, o clube mal pode esperar para começar uma verdade caçada às pistas. Afinal, desvendar enigmas é o que os Caçadores de Códigos fazem melhor.
11. Outras Obras que Utilizam Códigos
11.1. O Cão dos Baskerville – Arthur Conan Doyle
Em O Cão dos Baskerville, Sherlock Holmes decifra uma mensagem oculta em um jornal, provando a força dos códigos na investigação.
11.2. O Enigma do Quarto 622 – Joël Dicker
O Enigma do Quarto 622 traz códigos e pistas em cartas, essenciais para a resolução do mistério.
11.3. O Misterioso Caso de Styles – Agatha Christie
A autora usa pistas sutis e jogos de palavras para enganar o leitor, em O Misterioso Caso de Styles.
11.4. O Segredo dos Flamengos – Ellery Queen
Ellery Queen é autora de vários romances policiais. Muitos dos seus livros ainda não foram traduzidos para o português. Em O Segredo dos Flamengos, um crime é solucionado por meio de um código escondido em uma pintura.
11.5. O jogo da imitação – vários autores
Na trama de O jogo da imitação, Alan é contratado pelo governo inglês e torna-se responsável por integrar e comandar as mentes mais brilhantes da época. Juntos, eles devem desvendar o segredo de uma máquina de codificação chamada Enigma, utilizada pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial para comunicações sigilosas, e dessa forma descobrirem os seus segredos e contribuírem para ganhar a guerra.
11.6. O Escaravelho de Ouro – Edgar Allan Poe
O Escaravelho de Ouro é um conto de aventura e mistério, publicado pela primeira vez em 1843. A história gira em torno de Willian Legrand, um homem que encontra um escaravelho dourado de aparência peculiar. Assim, ele acredita que o escaravelho é a chave para encontrar um tesouro enterrado e, junto com seu servo Jupter e seu amigo anônimo, o narrador na história, embarca em uma busca emocionante. Legrand decifra um criptograma com letras, números e símbolos, revelando a localização do tesouro escondido.
12. É fácil Inserir Códigos em Sua Própria Narrativa
12.1. Escolha um Tipo de Cifra Adequado
O código precisa ser coerente com o contexto da história.
12.2. Dê Pistas Progressivas ao Leitor
Evite códigos excessivamente compicados e sem informações claras.
12.3. Evite Exageros que Quebrem o Ritmo
Códigos devem ser desafiadores, mas não impossíveis de se resolver.
12.4. Use Recursos Visuais e Estruturais
Incluir elementos como textos em itálico, sinais gráficos, ilustrações, tabelas ou espaçamentos inusitados são recursos visuais que podem ajudar na imersão.
12.5. Teste a Plausibilidade do Código
Antes de publicar, verifique se o quebra-cabeça faz sentido e pode ser resolvido, fazendo um teste com pessoas próximas.
13. Erros Comuns ao Usar Códigos em Histórias Policiais
- Criar códigos impossíveis de serem resolvidos pelo leitor.
- Introduzir códigos sem relevância para a trama.
- Tornar o uso de códigos excessivo, transformando a história em um jogo de quebra-cabeças sem conexão emocional.
Conclusão
O uso de códigos nos romances policiais adiciona um nível extra de profundidade à narrativa. Quando bem utilizados, desafiam tanto os personagens quanto os leitores, enriquecendo a experiência da leitura.
Pontos Relevantes
- O código deve servir à história, não o contrário.
- Dicas sutis mantêm o leitor engajado.
- Nem todo código precisa ser completamente resolvido.
- Testar a solução antes de publicar é essencial.
- Códigos adicionam realismo e mistério à trama.
Dicas de Ouro
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