- Gênero: Comédia | Público Jovem adulto
— João, traz os chinelos do seu pai!
Naquela época, eu estava com nove anos. Morávamos em uma casa úmida, alugada. Lembro que meu pai trabalhava o dia inteiro e, quando chegava para o jantar, a minha mãe me mandava levar os chinelos para ele. Com o tempo, o cheiro de chulé me levava a pegar nos calçados do meu pai com a ponta dos dedos e assim mesmo eu fazia isso prendendo a respiração.
Depois de algum tempo, não aguentei mais.
— João, traz os chinelos do seu pai!
— Não posso não, mãe. Estou com uma dor na perna que não consigo nem sair do lugar, porque hoje eu corri demais brincando com os meninos e jogando bola no campinho, foram quatro partidas, até fiz oito gols, na verdade, foram nove, mas um deles o Marinho disse que não valeu, o Marinho fica bancando o juiz e apitando o tempo todo, mas ele nem sabe dar um chute na bola e nem entende de futebol, assim não dá pra jogar direito…
— Tá bom! Chega! Pode deixar.
No outro dia:
— João, traz os chinelos do seu pai!
— Posso não, mãe! — E corri para o banheiro — Estou com uma dor de barriga danada, e parece que vou ficar muito tempo por aqui, acho que foi a maionese do almoço, tá certo que eu comi batata e feijão e arroz e carne, e suco também, mas só pode ter sido a maionese mesmo, acho que foi, estava com gosto de limão, eu nem sabia que levava limão, mãe, como se faz maionese? — gritava eu sentado no chão, do lado de dentro, encostado à porta do banheiro.
É por isso que eu digo que a minha mãe foi a maior incentivadora no desenvolvimento da minha imaginação para as minhas criações literárias. Ela instigava a minha capacidade criativa até o limite.
No dia seguinte:
— João, traz os chinelos do seu pai! — ela falou, com o seu chinelo na mão.
Eu atendi prontamente e depois corri para lavar as mãos, sem ela ver.
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Observação do Autor
Tem continuação. Não deixem de ler aqui no Epicentro Literário: A MINHA MÃE - parte II