- Gênero: Fantasia
Lenda indígena
A Lenda da Boiúna
No meio da floresta Amazônica, existem mistérios e criaturas que ninguém pode explicar.
Por entre pedras e folhas secas, a cobra gigantesca seguia se arrastando, deixando sulcos na terra que viravam igarapés. A floresta é escura, fechada, e um tatu só percebeu o bafo da morte sobre ele quando ela o abocanhou. O veneno logo se espalhou pelo pequenino corpo, que tentou se esconder em vão dentro da sua couraça. Porém, já era tarde. A Boiúna, ainda com fome, voltou para o rio, onde morava. Ela saiu arrastando seus 10 metros de cartilagem fria e grossa e, ao tocar as águas do rio, transformou-se em um imenso jacaré.
Uma pequena canoa que carregava um casal de indígenas pescadores tornou-se o seu novo alvo. Astuta, a Boiúna submergiu até o fundo e retornou com toda a sua força batendo a cabeça no casco, para virar a canoa.
Após três tentativas, indiferente ao pavor que provocava, ela conseguiu seu objetivo. O índio que caiu ao rio, no mesmo instante, foi envolvido pela Boiúna que já havia voltado a ser a anaconda. Enquanto a jovem índia nadava desesperada até a margem, Boiúna quebrava os ossos da sua presa e a engolia, aos poucos, ainda dentro do rio.
Terminada a refeição, Boiúna se voltou para a índia ofegante, deitada entre as pedras e o mato. Boiúna saiu da água e, enquanto se arrastava, pés e mãos iam surgindo e colocando a cobra na vertical, que, em segundos, virou um índio, tão forte e bonito quanto o que acabara de engolir. Ele se aproximou e mirou a bela índia: os olhos fechados, as gotas de água brilhando na pela morena, o peito nu arfando… Mas, após comer um homem inteiro, Boiúna não tinha mais fome para devorá-la. No entanto, invadido por outros desejos, ele se deitou sobre ela.
A pobre índia acordou horas depois, feliz, pensando que o seu homem havia sobrevivido e se deitado com ela. Mas para onde ele foi?
Messes se passaram e a índia deu à luz duas crianças: Maria Caninana e Honorato. Porém, com o tempo, os dois descobriram que podiam se transformar em cobra.
A menina costumava ir para a beira do rio e assustar as outras crianças. Até que certo dia… engoliu uma delas.
Maria Caninana tinha tendências para o mal.
Assim, sempre que podia, Maria Caninana, que já era uma moça, virava os barcos e assustava as pessoas.
Honorato, que só fazia o bem e vivia triste por carregar tal maldição, sem dizer nada à mãe, travou uma luta sangrenta com a irmã. Ora como anacondas, ora como seres humanos… Até que ele conseguiu matar a irmã. Abalado pelo seu destino, Honorato se embrenhou pela floresta e ninguém da tribo o viu mais por um bom tempo.
Um dia, caminhando pela mata, um jovem soldado deparou com uma enorme onça. Sem escapatória, e prestes a ser atacado, já se dava como morto. Mas na hora que a onça pulou sobre ele, uma enorme cobra se enrolou na cabeça da onça, travando sua mandíbula. Logo, a cobra envolveu todo o animal e só o largou depois que ele perdeu as forças e tombou inerte sobre as folhas. Sem acreditar no que seus olhos lhe apresentavam, o soldado presenciou a cobra se transformando em um índio.
— Como posso lhe retribuir? Você salvou a minha vida — disse o soldado.
— Salve a minha também — respondeu Honorato.
Assim, sob a orientação do índio, que voltou a virar cobra, o soldado retirou do bolso uma faca que ainda não havia usado e, com sua lâmina, fez um corte na cabeça da cobra. No mesmo instante, quebrando o feitiço ou maldição, Honorato tornou-se homem para sempre.
Porém, a Boiúna continua até hoje se arrastando pela floresta, mudando o curso dos rios, assumindo a forma de outros animais e assustando os povos ribeirinhos, sempre no intuito de devorar as suas vítimas. Ou não.