Jennifer

O Vento e o Gato

  • Gênero: Romance | Público Adulto

O sussurro do vento roçou seus ouvidos. Primeiro, como um sussurro delicado, depois como um chamado insistente.

Ana fechou os olhos, fingindo que não ouviu. As janelas bateram e um som seco ecoou, quebrando o silêncio. Pensou em levantar para fechá-las. Se a chuva acompanhasse o vento, o chão escorregaria e chegar à janela seria ainda mais difícil.

Como algo tão simples poderia parecer complicado? Quando a vida havia se tornado assim? 

O vento que viera e partia sem importância parecia seu inimigo. Ele não teve coragem de levá-la, mas, de alguma forma, a prendeu onde estava.

Ana decidiu ignorar a ventania e virou o rosto para o travesseiro, desejando que o som desaparecesse. Então, um barulho diferente soou junto à sinfonia que sacudia as árvores. 

“Um miado?”

Ana abriu os olhos. Outro lamento insistente. 

“De onde vinha? “

Nunca teve um animal de estimação. Mal conseguia cuidar de si mesma. A cada minuto, o miado ficava mais alto.

” Caramba! O que este gato faz aí?”

Empurrou o corpo para frente e agarrou a barra de aço ao lado da cama. Trouxe a cadeira para perto, sentindo cansaço antes mesmo de completar o movimento. Com esforço, se transferiu para ela. Por um instante, ficou ali, respirando. Seria melhor se pudesse contar com suas pernas. Antes, rapidamente, chegaria à janela e resgataria o bichano. Era tão ágil… livre.

Cada movimento exigia muito dela.

Aproximou-se da janela e enxergou dois olhinhos assustados que iluminavam a escuridão.

Ele estava encolhido, encharcado, na floreira pendurada. A cadeira a deixava mais baixa que a janela. Aumentaram a urgência dos miados. Pareciam um grito de socorro. Tentou chamá-lo, o felino somente a encarava enquanto tremia. Uma ideia absurda veio à mente. Se travasse as rodas da cadeira e, se dependurasse na janela? 

Que ideia arriscada! Poderia cair e se machucar. Definitivamente, não precisaria de lugares novos para sentir dor. E, se não fizesse nada? O que aconteceria com aquele gato? 

Inspirou fundo e foi em frente com seu plano. Com toda a força que restava, seguia pouco a pouco pela janela. Sentiu o vento frio e cortante sobre o seu rosto. Sentiu os músculos tensos e segurava a respiração ao sentir seu peso. Parecia seguir uma luta contra tudo que a impedia de prosseguir. 

Seus dedos tocaram o pelo molhado do gato.

“Não relute, pequenino. Não sei quanto consigo segurar.”

Com um último esforço, o trouxe a si. Mas uma fraqueza repentina a tomou. Colocou o bichano no calor do seu corpo e deixou que escorregasse pela parede ao chão. 

Como era pequenino e tremia tanto. Provavelmente com fome e frio. Assustado com sua situação, sem saber o que aconteceria depois. 

Lá fora, o vento continuava a soprar. Dessa vez, não tão forte.

Manteve o gato no calor do seu corpo. Não havia certeza do amanhã.

 Talvez  um pouco de companhia naquela noite tempestuosa.

 Dois sobreviventes da tempestade.

Observação do Autor

Ana se acostumou a viver em um mundo limitado, onde cada decisão parece uma batalha contra o medo. Quando uma tempestade sacode a noite e um gato assustado aparece em sua janela, ela se vê diante de um dilema: ignorá-lo ou enfrentar seus próprios limites para salvá-lo.

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